segunda-feira, 27 de junho de 2011

(pag 41)

Nao creio, mas também não duvido da existência divina, e talvez tenha sido isso o que me deu mais vontade de vencer tudo.

Vencer todo tipo de possível conspiração contra meus objetivos.

Se realmente esse Deus existe, ele com certeza não estava jogando no meu time, que seja então, pois agora ele tinha um adversário capaz de fazer tudo para derrota-lo.

Depois de horas chorando sentado no chão num canto de uma oficina mecânica, de repente me senti como uma mola que chegava ao fim do seu curso.

Somei a raiva da resposta divina nunca vinda, a necessidade de sobrevivência e a obcessao pela vitoria, e isso tudo me deu ainda mais forca para vencer todos os obstáculos. Sem nem mesmo ter certeza se o conseguiria.

Mas eu tinha que ser forte, afinal agora tinha que provar para esse Deus invisível que eu era mais forte que ele. Que mesmo ele jogando contra, eu poderia vencer. E essa não era a hora de desistir. Nao assim. Nao em Los Angeles.

No dia seguinte acordei ainda mais cedo e comecei a voltar nos clientes antigos, aqueles que já conheciam o meu serviço, afim de pelo menos ter algum dinheiro para pelo menos ter o que comer.

E assim seguiu-se pelos últimos dias que me restavam em LA.

Com muito mais suor do que sorte, consegui juntar em poucos dias o que demoraria muito mais de uma semana conseguir, aproximadamente trezentos dólares.

Isso era o suficiente para o combustível da volta.

Hora de sair daquele lugar que mais parecia um câncer sugando todas as minhas energias e prazer de viver.

Foi depois de limpar uma loja e somar o dinheiro que decidi pegar estrada sem nem mesmo tomar um banho depois de um exaustivo dia de trabalho pesado.

Nao poderia ser no dia seguinte, tinha que ser naquela hora, naquele minuto, naquele segundo.

Eram cinco horas da tarde quando coloquei no GPS o caminho de volta a Orlando. Quase três mil milhas de distancia. Mas que para mim não importava. Era como se voltasse ao paraíso.

O transito era infernal. Talvez o pior em todo o tempo em que morei em LA.
Talvez fosse meu inimigo jogando contra. Mas para mim não tinha problema, eu ia persistir.

Horas e mais horas para conseguir me ver livre daquela cidade que impregnava nas minhas entranhas.

Talvez tenha sido o único dia em que o transito não tenha me deixado tao mal. O alivio de estar saindo daquele mundo era maior do que as horas perdidas preso no transito.

Naquele dia, mesmo com o corpo cansado do trabalho, dirigi por horas e horas.
Mais precisamente por dez horas seguidas.

Tudo para poder descer do carro, olhar para trás e sequer ver algum indicio daquela cidade.

Naquela mesma noite cheguei a Phoenix e isso me deu ainda mais forca de seguir adiante sem parar.

Phoenix funcionou como um carregador para mim. Passei pela cidade e senti as boas vibrações. Isso foi decisivo.

Depois de Phoenix ainda dirigi por algumas horas ate uma cidade já no estado do Novo México.

Ja na mais completa exaustão, aproximadamente as três horas da manha, paro o carro mais uma vez no estacionamento de um Wall Mart.

A facilidade de encontrar essa rede de lojas já por si só fazia a minha felicidade.

Incrível como quando não se tem nada, qualquer coisa te faz feliz.

Creio que um dos grandes defeitos do ser humano eh realmente não dar valor as pequenas coisas. Mesmo que essas coisas são as que realmente nos trazem a felicidade. O real e devido valor só eh dado quando as perdemos, e algumas vezes isso pode ser tarde demais.

Outras vezes esquecemos de ficar feliz por pouco, precisamos cada vez mais. Necessitamos ter mais do que o outro. A eterna guerra do consumo capitalista. Nao nos damos conta de que: quem tem tudo, eh quem tem tudo a perder.

Esquecemos o valor de um simples banho quente depois do trabalho, de uma cama gostosa para deitar, de um prato de comidinha caseira, de pisar com os pés descansos na grama molhada ou simplesmente de um único e gratuito abraco.

A cada dia o mundo se torna mais rápido e dinâmico.
E tudo o que esta a nossa volta se turva e desfigura como uma visão da janela de um trem bala.

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