terça-feira, 31 de janeiro de 2012

(pag 52)

Mauricio estava voltando para CT pela segunda vez e conhecia alguns outros brasileiros que também estavam procurando apartamento. 

Chegaríamos a Cape Town com duas semanas de diferença entre os voos. 

Enquanto Mauricio não chegava para conversarmos sobre uma possível divisão de apartamento, eu buscava incessantemente encontrar alguma coisa, seja somente para mim ou mesmo para dividir com outras pessoas.

Certa dia tomando cafe da manha no albergue em que eu estava hospedado cruzo com um hospede com uma camisa do time do São Paulo. 

Como um bom são-paulino que sou saudei o camarada e começamos a conversar.

Ricardo tinha nascido no estado do Para e crescido em São Paulo, por isso o bom gosto para o time de futebol.

Conversamos por um tempo e ele me conta sobre seus planos na Africa do Sul.

Diz que não sabe ao certo quanto tempo pretende ficar em Cape Town visto que ele tinha vindo meio que a passeio, meio que para aprimorar o seu já bom nível de inglês, meio que para curtição mesmo.

Combinamos entre outras coisas um passeio a Table Mountain. 

O plano era subir de bondinho e descer a trilha a pé.

Alem de são-paulino Ricardo, assim como eu, tinha espirito aventureiro o que ajudou a estreitar a nossa relação de amizade rapidamente. 

Combinamos de no dia seguinte acordamos de manha e apos o cafe partimos em busca da aventura na Table Mountain.

Fizemos as mochilas e levamos na bagagem apenas disposição, duas garrafas de meio litro d'água e um pacote de biscoito.

Ao chegar a base da montanha a vista ja eh de se tirar o chapéu. Olhando para cima soh se vê um imenso paredão de pedra. 

E esse paredão eh alto, muito alto. 
Da base ate o topo são mais de mil metros de altura.

Da base já se consegue avistar boa parte do centro da cidade, alem do mar eh claro.

Ao embarcar no bondinho todos os curiosos e encantados turistas (eu e Ricardo estamos inclusos nessa lista) corremos para as laterais onde teoricamente sera possível ter uma vista mais privilegiada. 

Logo que ele começa a subir, a primeira surpresa: o chão do bondinho eh móvel e ele gira simultaneamente a medida que ganha altura. 

Perfeita lição de igualdade para os brasileiros que estavam pensando em levar a melhor ficando perto da "janelinha". 

Ninguém ficara com as melhores fotos ou paisagens, ou melhor, todos ficarão.

Chegando no topo da montanha o visual eh indescritível. 

São mil metros de imponência de uma parede rochosa quase que vertical. 

La de cima eh possível ver toda a cidade, e olha que CT não eh pequena, para se ter uma ideia são mais de 3 milhões de habitantes.

Do topo eh possível ter uma noção melhor da dimensão do que a montanha já causava la de baixo. 

A "mesa" eh quase totalmente plana, fazendo jus ao seu nome.

Depois de alguns minutos contemplando e reverenciando em completo silencio a natureza, eu e Ricardo resolvemos começar a caminhada. 

Decidimos mais ou menos caminhar pelos quatro cantos do topo da montanha. 

O primeiro dos cantos foi obviamente onde desembarcamos. Ali era o melhor ponto para termos uma visão da cidade.

De la seguimos para o lado que dava vista para o Cabo da Boa Esperança. O visual era deslumbrante. Era possível avistar todas as praias de Cape Town, e ao fundo nada menos que o Cabo da Boa Esperança.

Apos, seguimos para o lado oposto onde era possível ver o "interior" da cidade e por ultimo o canto onde ficava próximo a outro pico, chamado de Devil's Peak; e finalmente depois de completar todo esse trajeto, voltaríamos ao ponto inicial iniciando a descida a pé ate a base da montanha novamente.

Somente no topo da montanha foram mais de seis horas caminhando. 

Obviamente parando por alguns breves momentos para tirar fotos e/ou simplesmente para contemplarmos a paisagem de boca aberta. 



E isso tudo com o sol do verão africano nos castigando as costas. 

O calor era quase que infernal. 

Pouco depois da metade do caminho percorrido as pequenas garrafas de água já haviam acabado. 

Ainda tínhamos todo o caminho da volta, alem da descida eh claro.

Por diversos momentos nos vimos um tanto quando perdidos. Fato esse, somado ao calor extremo, a falta de água, a fome e o cansaço, eis que nos começa a bater um certo grau de desespero.

Sera que teríamos forças para voltar ao tao distante ponto inicial?

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

(pag 51)

Green Point faz divisa com outro lindo bairro chamado Sea Point. 
Ok, os nomes não parecem serem muito criativos mas o visual compensa a falta de criatividade, são lindos.

Cape Town eh uma cidade abençoada pela natureza. Ao caminhar pela orla do bairro de Sea Point você frequentemente consegue observar no mar golfinhos, baleias ou simplesmente um por-do-sol indescritível, e tudo isso com a bela Table Mountain as suas costas. 

Por vezes você não consegue decidir se prefere olhar para o mar ou para a montanha. 
Aja indecisão visto tamanhas belezas.

Depois de conhecer um pouco do local decido voltar ao albergue afinal as tantas horas viajando desde os EUA já começam abater o corpo cansado. 

No total já estou a quase quarenta e cinco horas acordado, mas ainda protelo para dormir afinal se dormir no meio da tarde ficaria mais difícil para acertar os tantos fusos horários cruzados.



Retorno ao albergue e depois de um relaxante banho eis que oito horas da noite me vejo esgotado. 
Deito e durmo (na verdade entro em coma) ate as dez horas da manha do dia seguinte.

Perfeito, pelo menos já tenho o relógio biológico funcionando com o horário local.

Ao menos os onze anos de aviação me fizeram aprender a controlar o "jet-lag".



Capt X
As primeiras amizades

Antes mesmo de chegar a Africa do Sul, já andava consultando sites sobre turismo, ou mesmo de economia e culturas locais. 

Considero importante, mesmo não sendo extremamente desorganizado como eu, saber ao menos o minimo sobre o local.

Alem mesmo de desembarcar, como tinha planos de alugar um apartamento afinal iria morar em CT por um ano, já andava pesquisando na internet preços e opções a respeito.

Depois de muita pesquisa vi que a melhor opção seria dividir um apartamento com outras pessoas. No final sairia mais em conta, alem de conseguir melhores opções e em melhores bairros.

A melhor ferramenta de se "conhecer" pessoas sem estar no local que se pretende ir ainda eh a internet. E não adianta, por mais que o facebook cresca, o orkut ainda eh a melhor ferramenta, afinal você pode entrar numa comunidade relacionada ao que você gosta ou procura e assim interagir com as pessoas que muitas vezes estao a procura da mesma coisa que você. 

E foi o que eu fiz. 

Entrei na maior comunidade do orkut a respeito de Cape Town e meses antes de pisar na cidade já interagia com as pessoas que la estavam. 

Foi assim que conheci Mauricio, um carioca que também estava a procura de pessoas para dividir um apartamento.

domingo, 29 de janeiro de 2012

(pag 50)

No trajeto entre o aeroporto e o meu destino vou tendo a primeira impressão sobre a cidade. 

Confesso que bem diferente dos EUA, eh claro.

Poucos minutos apos deixar a zona do aeroporto já começam as favelas. 
E ela são muitas.

Por um segundo chego a pensar se aquele cenário poderia ser o da cidade inteira. 

Obvio que não.

A medida que vamos chegando no centro de Cape Town me deparo, para minha surpresa, com muita urbanização. Prédios altos, viadutos e certa organização, me tranquilizam. 

Tudo isso crescendo entre uma imensa cadeia de montanhas, chamada Table Mountain, e o mar.

O cenário eh lindo, verde por todos os lados, porem a cidade mais parece um canteiro de obras, tudo para ficar pronto a tempo de abrigar os milhares de fans do futebol que estavam por chegar para a Copa do Mundo 2010. 

A primeira vista todas aquelas obras não ficariam prontas a tempo da grande abertura, previsa para menos de cinco meses. A segunda vista, eh claro que realmente algumas não ficaram.

Chegando no albergue e apos a primeira facada de boas-vindas do taxista, logo desembarco minhas bagagens e vou conhecer um pouco da cidade a pé.

Bastante arborizado e com grandes gramados, Green Point, o primeiro bairro que eu morei fazia jus ao nome.

Green Point Stadium ainda em construção


Pode soar como arrogância ou mesmo soberba o que vou dizer agora, mas depois que você mora em um pais de primeiro mundo onde a segurança publica realmente funciona, assim como nos EUA, andar novamente pelas ruas de um pais de terceiro mundo, a primeira vista, eh assustador. 

O sentimento de impotência e insegurança realmente incomoda.

Primeiro porque você já submete o seu subconsciente a uma prova, e segundo eh que normalmente essas provas são frutos de constatações como noticiários, indicadores de violências...enfim, somente catástrofes chegam a tona desses lugares.

Nas ruas, todos parecem te olhar de cima a baixo. 

Parecem te analisar como potencial vitima de um assalto. Eh estranho. 

Creio que demora um certo tempo para voltar a se adaptar, e no caso de Cape Town ao menos, ver que tudo isso eh uma grande bobagem.

O povo de Cape Town eh extremamente hospitaleiro, e acreditem, principalmente os negros. 

Todos querem conversar, perguntar, são curiosos e felizes. 

Tudo eh motivo para cair na gargalhada com eles. 

Nao se espante se estiver andando na rua e alguém te cumprimentar com um localmente famoso: howzit? 
Ou "traduzindo" para o inglês: How is it? 
Português literal: Como esta isto? 
Ou simplesmente eles querem saber como você esta?

Se você quiser parar para realmente conversar com essa pessoa, espere para ouvir historias das mais variadas possíveis. 

Ja se você disser que eh brasileiro, espere para ser bombardeado de perguntas e elogios. 



Aqui na Africa do Sul, por algum motivo que eu desconheço, o povo AMA o Brasil.

Frequentemente você se depara pelas ruas das cidades com camisetas do Brasil.
Brazil com Z no caso.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

(pag 49)

A funcionaria não apenas me aconselhou a seguir para a Cidade do Cabo de avião mas como também me passou uma relação com o nome das empresas aéreas e dos horários dos próximos voos.

Tudo perfeito para um recém chegado viajante despreparado.

A missão agora passava a ser de encontrar a empresa com o melhor preço para a Cidade do Cabo.

No balcão a funcionaria ainda me passou por alto mais ou menos quais seriam os preços praticados pelas empresas, mesmo assim eu queria fazer uma breve pesquisa para ter certeza se os preços da funcionaria batiam com os das empresas. E eis que encontro a melhor opção.

Embarco para a quarta e ultima etapa antes do destino final.

Três horas depois, que mais pareceram quinze minutos, visto que eu nem sequer vi a decolagem de tao cansado, eis que chego a Cidade do Cabo.

Ao recolher minhas bagagens, noto que a minha mochila esta aberta e minha necessaire com os produtos de higiene pessoal já não esta mais la, juntamente com a minha bandeira do Brasil e uma barraca de camping que estavam presos com extensores do lado de fora da mochila.

Hora de reclamar. 

Depois de preencher um extenso formulário, e para ser sincero dar adeus aos meus pertences reclamados, piso pela primeira vez em solo Africano, afinal creio que aeroportos sejam mais uma zona internacional do que realmente solo do próprio pais.

O calor eh realmente africano. 
Creio que mais de trinta e cinco graus. 
A sensação eh ainda maior principalmente para quem, como eu, vinha de temperaturas negativas.

O aeroporto de Cape Town estava uma loucura. 

Vários voos chegando, reforma e ampliação para a Copa do Mundo que seria em pouco menos de seis meses, enfim, um caos. 

Sem ao menos pensar, entro num táxi com destino ao meu albergue. Erro tipico de turista (e logo eu??).



Talvez fosse efeito das mais de quarenta horas viajando.

Nem sequer havia checado a distancia, um possível trajeto ou quanto isso me custaria. 

Erro comum de pessoas despreparadas como eu.

Conselho: NUNCA pegue um táxi na Africa do Sul sem antes combinar um preço e ter no minimo uma ideia inicial de quanto o trajeto vai custar. 

Creio que muito dos taxímetros são adulterados. 

Na verdade o taxímetro mais parece o velocímetro. 

A medida que o carro se move o valor acelera assustadoramente. 

Para se ter uma ideia, o trajeto Aeroporto / Green Point (bairro no qual ficava o meu albergue) ficou no valor de pouco mais de 300 rands. 



Depois eu descobri que alguns taxistas fazem ate por 150 rands. Ótimo não?!

Enfim, como eu fui marinheiro de primeira viagem, paguei o pato, ou o táxi no caso. 

Já vocês quando forem para a Africa do Sul, não cairão mais no conto do vigário. 

Esse eh mais um dos benefícios de ler esse livro ate o final.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

(pag 48)

Capt. IX
Os Fantásticos Sulafricanos


Quando você ouvir historias de pessoas que visitaram a Africa do Sul, creio que em 99% dos casos elas citarão a hospitalidade, carinho e alegria do povo sulafricano como algo marcante na viagem, eu eh claro, não sou excessão a regra.

Meu quase inespressivel "plano de viagem" se resumia a desembarcar no aeroporto de Jo’burg, pegar um táxi ou qualquer outro meio de transporte ate a estação de trem e la embarcar no famoso Shosholoza Meyl com destino a Cidade do Cabo. 

Isso tudo levaria um dia de viagem, alem eh claro das trinta e sete horas que eu já havia levado para pisar em solo sulafricano. 


Porem esse era todo o meu plano. Informações relevantes como preço, horários, segurança, alimentação, etc, etc, etc...eu não fazia a menor ideia.

Tudo o que eu sabia era que o Shosholoza eh um trem que ligava as cidades de Jo'burg a Cape Town cortando o coração da Africa do Sul de ponta a ponta. No total eram quase mil e quinhentos quilômetros de ferrovia de uma capital a outra. 



Esses e outros tantos fatos históricos somados ao desafio da aventura, me tendenciavam e embarcar nessa ideia.

Porem eu ainda precisa me informar melhor.

O Serviço de Imigração da Africa do Sul eh uma das coisas mais fantásticas que eu vi dentre todos os países que visitei. 

Lembro do Oficial de Imigração me perguntar o motivo da minha viagem...e só! 

Eu respondi que eram ferias e pronto. Próximo da fila!!!
Nem mesmo o meu cartão de vacinacao foi checado. 

Passaporte carimbado com três meses de visto de turista.

Na Africa do Sul eh assim. Três meses com visto de turista quando você desembarca, porem você pode estender por mais três meses mesmo estando dentro do pais.

Ao sair pela sala de desembarque do aeroporto o primeiro passo seria buscar tais informações básicas sobre o bendito trem. 

Para isso, nada como um Balcão de Informações para Turista.

Por mais desorganizado que o aeroporto de Jo’burg pareca, assim que cruzei a saída da sala de desembarque me deparei com um balcão de apoio ao turista, onde sou atendido por uma sempre sorridente e simpática atendente.

Munido do meu inglês já conhecido de vocês leitores, tento extrair algumas informações. 

Creio que em muitos lugares do mundo a atendente ou iria morrer de rir na (e da) minha cara ou simplesmente dizer que não estava entendendo nada (o que era muito provável) e chamaria o próximo da fila. 

Ok, para minha sorte eu era o único na fila.

A cada pergunta que eu mimicava ou simplesmente esboçava um som que talvez ao ouvido de um babuíno parecesse inglês, a paciente atendente me munia de informações aliadas a panfletos caso eu não fosse capaz de entende-la, o que confesso por muitas vezes era impossível.

A prestativa funcionaria não só salvou a minha pele como também me indicou a melhor opção a que eu deveria tomar, ou seja, a historia do famoso Shosholoza trem já tinha ido por aguá abaixo. 



Segundo ela não por qualquer outra questão a não ser o horário, visto que o ultimo trem daquele dia partia dentro de dez minutos, tempo insuficiente para eu me locomover entre o aeroporto e a estacão de partida do trem.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

(pag 47)

Desembarcando do avião, mais uma vez me deparo com o maior problema por mim vivido nesta volta ao mundo: o bendito inglês. 

Se nos EUA eu já estava pelo menos habituado a começar a entender os sotaques e modo americano de falar inglês, agora tudo tinha voltado a estaca zero! 

Parecia um novo mundo, um outro idioma Inglês. 

Os sulafricanos brancos falavam com um sotaque britânico, outras vezes com sotaque africâner (idioma que e bem parecido com o holandês, ótimo não?!). Ja os negros por sua vez eram impossíveis de se entender afinal o sotaque vinha muitas vezes do Xhosa ou Zulu (idiomas tribais). 

Meu Deus, o que sera de mim.

Creio que nascer ou mesmo morar no Brasil por muitos anos nos faz criar um aspecto de “se virar” em qualquer lugar. Eh o famoso “jeitinho brasileiro”, não aquele pejorativo eh claro. Talvez essa seja a maior e melhor herança que o Brasil me deu e a qual eu sou mais agradecido.

Como já dizia um velho ditado brasileiro: “em horas de aperto, enquanto o resto do mundo senta e chora, o brasileiro vende lenços de papel”.

Brincadeiras infames a parte, nesse caso do idioma, nos brasileiros ao invez de travarmos a língua e nos escondermos atras do idioma não dominado, nos tentamos conversar, mesmo que esse “conversar” seja falar a palavra em português mesmo, porem mais pausadamente e num volume mais alto, como se isso fosse o suficiente para que o ouvinte entendesse o que nos queremos dizer.

Obviamente que eu não cheguei a esse ponto do ridículo, afinal de contas com o meu inglês de Tarzan, algum (pouco) senso de ridículo e sabendo que essa pratica não funciona, ainda tentava me comunicar em inglês mesmo.  

De todas as maneiras para quem não domina o idioma mas mesmo assim quer tentar se comunicar, talvez a melhor de todas seja a boa e velha mimica. Desde os primórdios, passando pelo cinema mudo, ate hoje em dia em aclamadas pecas teatrais, a mimica continua funcionando!



Porque não continuarmos usando a mimica ate com um certo tom nostálgico-necessário?

Alem do mais, se com a mimica você não se fizer entendido, pelo menos sera motivo de piada, o que no final das contas já eh bom para estreitar as relações de amizades. 

Consequentemente no meu caso não foi diferente.

Ainda dentro do aeroporto fui obrigado a pedir algumas informações e aliando o meu já aprimorado inglês de Tarzan a um curso auto-didata de mimica, consegui extrair dos simpáticos funcionários todas as informações necessarias. Para ser mais sincero creio que só consegui tais informações pelo ultimo motivo da frase acima ao qual destaco em todo o próximo capitulo deste livro para melhor explicar o quão simpáticos são os sulafricanos.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

(pag 46)

Ao fazer a mala que levaria a bordo, não me dei conta de que tinha colocado dentro dela um saco recheado de "coisas de homem", como por exemplo: um relógio de pulso que ja não usava mais, uma lanterna, um fone de ouvido, MP3 player...e três canivetes.

Incrível que mesmo depois de onze anos trabalhando de comissario de voo eu ainda fui capaz de cometer uma gafe dessas. 

A minha cara vai ao chão.


Mas afinal eu não era o único errado, alias creio eu, que o menos errado, visto que eu tinha viajado duas etapas, uma delas dentro do próprio EUA portanto tais canivetes como bagagem de mão. 

Descobri que o serviço de segurança dos EUA não eh tao eficaz como eles acham que eh.

O policiais nem tao gentilmente apreenderam os meus canivetes e ainda por cima solicitaram o meu passaporte para uma averiguação (?). 

Foram com ele para uma sala e voltaram sem me dar a menor satisfação do que haviam feito la dentro.

Como mesmo antes dessa experiencia eu já tinha desistido de conhecer o Qatar, nessa hora eh que eu não fazia a MENOR questão de pisar fora do aeroporto, afinal o risco que eu estava correndo de ir parar numa prisão era agora potencialmente grande.

Oito horas depois, sem meus canivetes e com alguns sustos na bagagem, sigo finalmente para a Africa do Sul.

Muitos devem estar pensando o que eu fui fazer na Africa do Sul, outros, movidos pela paixão pela natureza e historia devem estar ansiosos para ouvir os relatos desta passagem. 

Eu confesso que particularmente não faco ideia do que me trouxe ate aqui.

Depois de quase um dia de viagem partindo dos EUA, fazendo uma escala no minimo aventureira e interminável no Qatar, eis que chego na Africa do Sul, mais precisamente em Johanesburgo. 

Confesso que o frio na barriga de estar deixando um pais de primeiro mundo, alguns novos e velhos amigos, uma certa zona de conforto, tudo isso pra trás: não e fácil. 

Ao me dar conta de tudo isso, esse frio na barriga passa ser um imenso iceberg capaz de afundar ate mesmo dois Titanics, porem como ao menos nesse ponto eu sou movido a desafios, não eh hora de parar, muito pelo contrario, o frio na barriga passa a ser viciante depois de algum tempo. Eh como adrenalina.

Depois de aproximadamente oito horas de voo partindo de Doha, já começo a avistar Jo’burg (como Johannesburgo eh conhecida pelos sulafricanos). 

A primeira impressão não e das melhores. 

Áreas imensas de casas, conhecidas como townships, ou simplesmente favelas para nos, tomam conta do cenário. 



Os imensos arranha-céus que dias atras eram pano de fundo em tantas imagens nos EUA agora dão lugar a uma cidade quase que horizontal. 

Pelo menos essa era a impressão vista do alto.

O frio na barriga passa a se alastrar para o resto do corpo, afinal: 

- O que eh que eu estou fazendo aqui???

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

(pag 45)

O meu voo iniciava em Orlando, fazendo uma escala em Washington, outra em Doha, mais uma em Joahnesburgo totalizando vinte e sete horas. E ainda teria pela frente a ultima etapa ate Cape Town, destino final. Etapa essa que eu ainda não fazia ideia de por qual meio seria feita.

Para mim era tudo uma maravilha, afinal eram formas econômicas de conhecer outros países, o Qatar no caso, afinal ficaria oito horas na capital entre um voo e outro.

A ideia inicial era pegar um táxi e fazer um pequeno tour pela cidade. Ideia muito rapidamente morta depois da consulta ao famigerado “Sistema” logo na saída em Orlando.

Mais uma vez o Sistema me aterrorizava e fazia mais uma vitima.

Ok, a ideia do tour já estava cancelada e eu conformado em ficar as oito horas trancafiado na sala de embarque/desembarque, afinal de contas, essa atitude seria melhor e mais fácil do que correr o risco de ser extraditado para um pais que eu nem sequer sabia qual seria.

Embarquei de Orlando para Washington no que seria a primeira etapa do total de quatro. 

Despachei as minhas malas e só fiquei com a bagagem de mão, uma pequena mala com alguns pertences e uma muda de roupa caso a mala despachada fosse extraviada.

Apos passar por dezenas de checagens policiais afinal os USA ainda vivem sob o medo do terrorismo, chego no Qatar, segundo destino da minha saga. 

Desembarco tranquilamente, visto que já tinha esquecido a ideia de conhecer a cidade.

Na conexão do meu voo para a Africa do Sul, novamente a minha bagagem de mão eh passada pelo raio-x.

Por um segundo, o operador do sistema arregala os olhos diante da tela do computador, chama o policial e mostra alguma coisa na tela para ele. 



Eu, como não devia nada a ninguém ainda estava tranquilo, apesar de um pouco apreensivo com a escala no Qatar, principalmente depois de toda a carga de stress que a funcionaria, ainda nos EUA, tinha colocado sobre meus ombros.

Observo que a cada segundo que passa novos policiais chegam a frente da tela do computador. Eu ainda aguardo tranquilamente pela liberação da minha mala. 

Ok, agora já não tao tranquilamente.

Um policial me chama de canto e pede para eu abrir a minha mala. 

Obviamente eu atendi a ordem. 

Nessa hora já são quatro policias a minha volta. 

A minha tranquilidade já da lugar a um grande nervosismo.

Eu pergunto o que ha de errado com a minha bagagem. 
O policial informa que eu estou portanto três facas dentro da mala. 

A minha primeira resposta foi: IMPOSSÍVEL! 
Eu mesmo tinha feito a minha mala, como aquelas facas foram parar la?! 

Eis que o policial abre a mala e pega três canivetes e me mostra.

domingo, 22 de janeiro de 2012

(pag 44)

Capt. VIII
O inesperado

Engraçado embarcar num avião de uma empresa aérea que você mal conhece, com destino a um pais que você nunca pisou, e nem sequer conhecera uma pessoa quando la desembarcar. 

Eu acho os desafios na minha viagem em volta ao mundo encantadores . 

Desta vez o destino e a Republica da Africa do Sul.

Iria sair debaixo do seguro pais do Tio Sam para me meter novamente em um pais do Terceiro Mundo.

Fazendo o check-in ainda no aeroporto de Orlando me vem o primeiro dos sustos desta jornada. 

A prestativa funcionaria me diz, apos consultar o famoso Sistema, que eu teria que ter previamente o Visto de permanência no Qatar, afinal minha escala era de mais de seis horas (oito no meu caso). 



Sem crer muito na informação, afinal Sistema só serve para ficar caindo, pergunto-a qual o risco de não ter o prévio Visto carimbado no meu passaporte. 

Sem titubear ela informa olhando nos meus olhos:
- O risco eh de extradição.

Ótimo! 
Logo na segunda etapa da viagem, em pleno Qatar, eu seria extraditado de volta para o Brasil. Alias esse sim seria um ótimo tema para escrever um livro ou iniciar uma carreira politica. Talvez o livro sobre esse novo tema fosse ate melhor do que este vem sendo. 

Dentro dos meus planos, a possibilidade de voltar para o Brasil era simplesmente aterrorizante. 

Isso sem contar que eu não fazia a menor ideia de onde seria mandado nesta extradição, afinal, de volta aos EUA eu não poderia pois meu visto estava expirando naquele mesmo dia. Para o Brasil também não afinal eu nem sequer tinha passagem para la e talvez nem tenha voo do Qatar para o Brasil.

Resumindo, para falar a verdade seria uma merda sem tamanho. 

Como grande parte desta viagem de volta ao mundo foi toda correndo riscos e vivendo o inesperado, essa seria mais uma vez o que iria acontecer. Bora jogar na mão do acaso.

Despachei as malas e embarquei para a Africa do Sul com uma, no minimo, instigante escala em Doha, no Qatar.