sábado, 18 de junho de 2011

(pag 34)

Depois de horas questionando os porquês da vida e namorando com a morte, a noite cai e vejo que eh hora de procurar um lugar tranquilo para sentar.

Encontro um pequeno hotel com sinal de internet grátis. Quando entro na recepção noto que no canto do hall de entrada ha uma aconchegante lareira com varias cadeiras e bancos de madeira para as pessoas sentar-se em volta.

Sento-me junto ao fogo para me aquecer e ali permaneço por horas no computador conversando com meus familiares.

Ja passa da meia noite, eh Natal.
Me vejo completamente sozinho no hall do hotel.

Somente um funcionário na recepção para atender os hospedes, que não eu obviamente.
Assim que o movimento já não eh mais intenso passo a ser notado.

Hora de ir para o carro, e a essa altura já considerado um verdadeiro freezer.


A temperatura dentro do carro eh exatamente a mesma do lado de fora.

Coloco todas as roupas possíveis e tento dormir.

O frio eh implacável.

Aos poucos, sem pressa, ele vai tomando conta do meu corpo.

Começando pelos pés, cobertos por três pares de meias e seguindo por todo o corpo.

O rosto começa a sentir os efeitos da baixa temperatura. Os lábios ressecam, o nariz não para de correr coriza, a testa arde e as orelhas…ahhh essas já não sinto ha muito tempo.

Tento cobrir a cabeça.

Por alguns segundos esse prazer eh trocado pelo excesso de gás carbônico emitidos pela minha própria respiração no interior dos dois sacos de dormir.
Contudo, como o gás carbônico eh um estimulante do sistema nervoso, o cérebro não para de processar informações. Trabalha a todo o vapor, o que obviamente me impede de relaxar e dormir.

A luta segue entre as duas opções, cabeça para fora congelando ou coberta sem conseguir dormir.

Mesmo cansado do dia exaustivo, eh impossível dormir.
Apenas leves cochilos de dez a quinze minutos, seguidos de horas acordado.

A noite parece nunca acabar.

Certa hora da noite, quando já estou muito mais cansado do que antes de ter ido deitar, procuro o termômetro dentro do carro para checar a temperatura soh por curiosidade.

Para aumentar a minha já apavorante noite vejo que o termômetro marca três graus fahrenheit.
Tres graus fahrenheit correspondem a apavorantes quinze graus centigrados NEGATIVOS.

Para se ter uma base de comparação, um freezer domestico normalmente trabalha com uma temperatura de cindo graus Celsius negativos. Ou seja, era como se eu estivesse tentando dormir dentro de um freezer três vezes mais potente do que esse que você tem ai na sua casa.

Noto que ao meu lado o galão de vinte litros de aguá, que normalmente eu usava para lavar as janelas, esta totalmente congelado.

Nessa hora tive a certeza de que ali não era o melhor lugar para eu estar dormindo, ou mesmo tentando, principalmente dentro de um carro sem ar condicionado quente.

Finalmente o dia amanhece. A noite parece ter durado pouco mais que a eternidade.

Tento escovar os dentes, sem sucesso, a pasta de dentes também esta congelada.

Ao menos o nascer do sol eh maravilhoso, e assim que o mesmo aponta no horizonte, eu ligo o carro e pego estrada.

Todos os músculos do meu corpo doem, tamanha fora a contração durante a interminável noite.

No caminho de volta, paro no primeiro posto de combustível para abastecer o carro. Aproveito e compro também um copo de chocolate quente para subir a temperatura corporal.
Ele cai feito uma cura, uma salvação.

Aos poucos volto a sentir o meu corpo novamente.


Decido ligar meu computador para ouvir musicas.
Apos inúmeras tentativas sem sucesso de tentar liga-lo, penso na possibilidade da bateria também ter congelado.
Ainda dirigindo, tiro-a e coloco debaixo de uma das pernas durante uns trinta minutos.
Ao colocar de volta, o computador liga na primeira tentativa.

Descubro que baterias também congelam, e que naquela noite a unica coisa que não congelou dentro do carro fui eu mesmo, pelo menos quase…

Talvez dessa ver, sem querer, estive ate muito mais perto da morte.

A medida que vou me afastando do Grand Canyon o sol vai tomando cada vez mais forca e a neve vai desprendendo-se do carro.

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