segunda-feira, 13 de junho de 2011

(pag 29)

Ao final do primeiro dia de trabalho, e ja com alguns dólares no bolso, decidi que era hora de procurar um local para banho, afinal a essa altura meu ultimo banho tinha sido em Los Angeles, a incríveis sete dias atras.

A primeira vista sete dias sem banho parecem assustar, e de fato assustam mesmo, mas as cidades por onde passei me favoreceram de certa forma a ficar menos insuportável a sensação da falta de banho, afinal Los Angeles era muito seco, quase nao se transpira no inverno; San Francisco, devido a chuva, eu quase nao sai do carro; Lake Tahoe estava nevando tanto que mesmo se tivesse um chuveiro para tomar banho, acho que nao seria a melhor ideia, e por fim quando cheguei em Los Angeles era de noite e no dia seguinte tinha que priorizar o trabalho para ter dinheiro para o banho.

Mas obviamente que durante esse período eu realizava todos os dias a higiene pessoal com lenços umedecidos e toalhas. Quase um banho de recen-nascido.

Mesmo com este tipo de "banho" cheguei a encontrar americanos, que obviamente nao estavam morando em seus carros, com aspecto muito mais sujo que o meu.

Ja com certo dinheiro no bolso, rodei boa parte de Las Vegas procurando um local para o banho decente.

Certa hora encontrei um motel.
Diferente do Brasil, os motéis nos EUA sao locais para um simples pernoite. Nada tem a ver com fornicação ou coisas do gênero.


O motel era ruim, dos piores possíveis, mas a minha escolha foi justamente essa para que o argumento do pagamento de um simples banho pudesse valer mais.

O funcionário que me atende diz que o pernoite sao (incríveis) quarenta dólares. Isso por si so ja era um insulto, visto a qualidade da espelunca.

Perguntei se era possível tomar apenas um banho, pois estava fazendo um tour ao redor dos EUA e ja nao tomava banho ha sete dias, tudo para tentar sensibilizar o inabalável homem.

Ele, com a frieza de um esquimó me responde que sim, por quarenta dólares.

Insisto em explicar que nao vou dormir ou sequer sentar-me na cama, seria apenas um banho e nada mais, nem precisaria de toalha, soh queria alguns litros de água quente.

O homem de gelo sorri de canto de boca, espreme os olhos e responde: ok, quarenta dólares.

Mais uma vez tento colocar amor, ou dinheiro mesmo, no coração do rapaz.

Digo que ninguém precisa ficar sabendo e que pago direto pra ele. O famoso caixa dois do Brasil.

Por um segundo consigo acessar o interior gelado do rapaz que ate pergunta quanto eu pagaria por isso.

Com certa esperança de ja ter o negocio fechado, chuto um valor alto (pra mim).
Digo-lhe: dez dólares!

Mais uma vez o assustador sorriso de canto de boca reaparece, dessa vez acompanhado por um ecoante: NAO!

A minha vontade era pular o balcão e pegar o rapaz pelo pescoço, porem se assim o fizesse, com certeza ficaria muito mais de sete dias sem banho, dessa vez na prisão.

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