terça-feira, 31 de maio de 2011

(pag 18)

Outra cidade que eu fiquei por mais tempo foi Phoenix, no Arizona.

A cidade faz justo ao nome, e no meio do deserto surge em meio as cinzas, areia no caso, para se tornar uma das mais belas cidades americanas.

Alias escolhida como a melhor no ano de 2009.

Apaixonei-me por Phoenix logo de cara.

A cidade eh moderna, com arranha-ceus espelhados e predios lindos e imponentes, quase em sua maioria num tom alaranjado.


Ao perguntar a um guia o porque dessa cor, ele me diz que eh em referencia ao Grand Canyon, cartao postal mundial do estado do Arizona.

Se eh verdade eu nao sei, porem a cidade eh digna de admiracao.

Ao andar pelo centro da cidade em pleno horario de rush eh possivel contar nos dedos das maos as pessoas que se ve andando a pe pelas ruas. Eh no minimo estranho, chega a parecer uma cidade fantasma.

Mas saindo do centro pode-se ver a populacao de Phoenix, todas em seus carros, lotando as freeways em direcao de casa.

O clima da cidade eh outro ponto a ser destacado e que explica um pouco do porque todos andarem de carro. Os moradores da cidade dizem que no verao as altas temperaturas castigam, chegando facilmente passar dos 40 graus celsios.

Particularmente eu acho que a aridez castiga muito mais, afinal castiga o ano todo. E Phoenix eh arida, muito arida. Poucas horas na cidade ja sao suficientes para ja sentir os lábios partindo-se. E essa aridez, como no deserto, faz com que as temperaturas oscilem bruscamente. Mesmo no inverno, quando durante o dia faz 30 ou 35 graus, a noite essa temperatura cai para 5 graus Celsius.

Phoenix eh uma cidade que tem certo equilibrio de classes sociais e uma otima opcao de moradia para quem gosta de modernidade e principalmente calor.


Procurei um lugar para tomar banho, afinal ate entao meu ultimo ato que eu poderia chamar de banho tinha sido quatro dias atras em KW.

Durante esse periodo eu fazia a minha higiene pessoal com lencos umidecidos e/ou nas torneiras das Rest Areas.

Também muito comuns nos EUA os chamados RV Parks (sigla para Recreation Vehicles Park), eram a melhor opcao para o banho. RV Parks sao areas como se fossem os campings no Brasil.

Um local onde pode-se estacionar, ou em alguns ate morar, dentro dos muito comuns Motorhomme americanos.

Em Phoenix encontrei facilmente um, paguei cinco dolares e tomei um banho como a quatro dias nao tomava.

Mas como a viagem nao pode parar, sigo o meu caminho em direcao a Califórnia.


Capt. IV
California

Depois de longos cinco dias de viagem repleta de maravilhosas e pacatas cidades chego a California.

Confeco que a primeira impressao nao eh das melhores.

O asfalto, ate entao liso como uma rosa em grande parte dos EUA ficou para tras, dando inicio ao concreto.

Grande parte das estradas da California nao sao de asfalto mas sim concreto, o que por melhores que sejam, e realmente sao muito bons, nao deixam o carro navegar silencioso e macio como o asfalto.

Pode parecer bobagem, mas quando se dirige por muitas horas, e mora no carro, esses sao pontos que voce passa a notar.

O cenario ate entao desertico torna-se habitado por predios e mais predios.

A medida que se aproxima de Los Angeles o transito aumenta e a beleza diminui.

Em certos pontos pensei que fosse apenas cidades menores e consequentemente mais pobres, porem ja entrando no perimetro urbano de Los Angeles eh possivel ver que a ate entao tranquilidade da lugar a um transito absurdo, comparavel facilmente a Sao Paulo nos seus piores dias e com beleza limitada.

Percebe-se que Los Angeles vive mais em funcao da fama e "glamour" do que propriamente o que a cidade proporciona.

domingo, 29 de maio de 2011

(pag 17)

Bom, se Tony profissionalmente segurava o riso no canto da boca, eu a essas alturas ja nao me continha.

Mas confesso que era uma mistura de riso pelo fato e pelo medo.
Um riso amarelo e seco.

O assistente de Tony, percebendo o suor frio descendo do meu rosto me oferece uma cerveja para tentar quebrar o clima.

Obviamente aceita.

Isso porque para quem me conhece sabe que eu nao sou o maior admirador dos fermentados. Creio que a essa altura o que cairia melhor seria uma dose tripla de whisky, e para esse caso, sem gelo.

Começamos a conversar a respeito do trabalho, ou pelo menos tentar.

Eu disse que seria impossível vestir aquela micro-peca de roupa e tentei convence-lo de que seria ate melhor que eu nao o fizesse, visto que com o meu porte físico nao iria atrair e sim ate distanciar o publico interessado nos produtos.

Felizmente para mim Tony entendeu e aceitou a mensagem.

Abri ate a segunda lata de cerveja, dessa vez de alivio.

Apos quatro dias de muita bebida, gente nua, coisas que eu jamais pensei em ver nas ruas, muito menos nos EUA, a Fantasy Fest chega ao fim.


Se durante o período em que a cidade estava cheia eu nao havia conseguido sequer um emprego (decente), nao seria apos a festa que eu o conseguiria.

O dinheiro ja estava acabando. Eu tinha que tomar uma decisão.

E a decisão no meu caso era sempre a mesma: hora de partir. Seguir com os meus planos de cruzar o pais.

A decisão mais complicada de tomar era: mas partir para onde?

Se o plano inicial seria cruzar o pais sentido a costa oeste, entao, vou-me embora para la.

Mais uma vez eh claro que nao fiz o caminho mais curto e nem mesmo direto.

Parti de KW voltando sentido a Orlando, e sai do maravilhoso Estado da Florida seguindo em direcao ao Golfo do México.

Fui sempre procurando beirar o litoral.

Passei por Panama City, cidade pequena mas muito bonita, entre algumas outras tantas.

Algumas vezes meus pernoites eram em pontos chamados Rest Area nas estradas.
Rest Area, traduzindo para o português, significa Area de Descanso.

Em alguns estados sao bem faceis de se encontrar e contam com uma infra-estrutura invejável que vai desde enormes (e limpos) banheiros, ate mini shoppings de conveniência.

Perfeito para viajantes de longos trechos como eu.

Foram cinco dias de viagem cruzando oito estados.

Seguindo viagem, passei por algumas cidades como El Paso, Nova Orleans, Tucson e Houston.
Essas eu apenas conheci sem ao menos sair do carro.
Somente rodei pelo centro da cidade e alguns pontos mais interessantes.

Outras valeram explorar com mais tempo. Como foi o caso de San Antonio, no Texas.

San Antonio eh uma cidade maravilhosa para se fazer tu
rismo curto, de dois ou tres dias.

O centro da cidade eh muito limpo, seguro, bonito e bem cuidado.

Um rio cruza por baixo da cidade e a arquitetura tratou de explora-lo turisticamente, ou seja, varios bares e restaurantes rodeiam as margens desse rio num ponto muitas vezes abaixo do nível da rua. Muito interessante.


Um shopping da um tom de glamour e requinte ao local.

Porem, alem dos pontos turísticos comuns, eu procuro explorar a cidade como um todo.

E saindo um pouco desse centro turístico, pode-se ver que San Antonio peca na distribuição de renda.

Nota-se que muitos bairros sao povoados por pessoas de baixo poder aquisitivo. Mas ainda assim muito longe das nossas favelas brasileiras.

sábado, 28 de maio de 2011

(pag 16)

Apos muita discussao, Mark paga novamente a conta, segundo ele, e mais uma vez me convida para irmos para outro bar.

Perfeito, havia-se criado a oportunidade certa.

Simplesmente recuso o convite dizendo que ja estava muito cansado e com sono.

Ao mesmo tempo, temo que Mark diga o mesmo e mais uma vez me acompanhe ate a casa escura e sombria.
Fato que felizmente nao ocorreu, talvez por conta ja da sua visível embriaguez.

Sem esperar muitas decisões, sigo meu caminho, a essa altura sentindo-me aliviado de ter conseguido me ver livre de uma das situações mais estranhas e embaraçosas da minha vida.

Ate hoje nao sei o que ele procurava dentro da mochila e do carro, muito menos qual era a sua intenção me convidando para esse "passeio" sombrio e bizarro, porem meu índice de curiosidade nao eh tao grande a ponto de querer saber.

Me conforta mais ter saido de toda essa situação sem nenhuma resposta.



Capt. III
Primeiro emprego...?

Durante o período que fiquei em KW procurei com exaustão trabalho, afinal queria aproveitar para tirar algum proveito da festa e da cidade cheia.

Foram dias entregando currículo de porta-em-porta e mandando centenas de emails pela internet.

Ate que um dia obtive um retorno.

Surgiu um possível trabalho durante a festa numa barraca que vendia roupas como o logotipo oficial do evento.

Ou pelo menos foi tudo o que eu consegui entender, com o meu inglês de tarzan, no contato telefônico feito com o responsável, Tony.

Marcamos um encontro na propria barraca no primeiro dia do festival.

Ao chegar vejo que as roupas estao de acordo com o evento, ou seja, mínimas.
Tanto dos homens, quanto das mulheres.

Com mais calma, gestos e mímicas, vejo que a minha funcao nao seria de vender as roupas, e sim de figurar como vitrine-viva na frente da barraca.

A essa altura Tony, com um sorriso preso no canto da boca, começa a me mostrar a roupa que eu teria que usar:

Uma micro tanga que mal cabia na palma da minha mao.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

(pag 15)

Mark começa a divagar a respeito da historia da casa.

O meu básico nível de inglês misturado ao alto teor de adrenalina, so me permitem entender algo como que aquela casa tivesse pertencido a um cidadão ilustre de KW que morreu ha muito tempo atras.

Mark continua o monólogo e eu sigo em silencio.

A essa altura meus olhos ja se acostumando com a pouca claridade, consigo visualizar melhor o cenário.

Certo ponto ele interrompe e pega uma mochila que estava debaixo da mesa, junto ao seu pe direito.

Se antes eu ja estava achando tudo muito estranho, a essa altura aguço meus sentidos ao máximo, me preparando para uma reacao rápida dependendo do que viesse de dentro daquela mochila. O nivel de adrenalina faz meu coração pulsar quase que audível.

Enquanto isso Mark continua a mexer na mochila sem encontrar o que procura.
Minutos depois desiste e retorna ao monólogo totalmente bêbado e falando coisas aparentemente sem sentido.

Eu, visivelmente incomodado com a situação proponho seguirmos caminho.

Mark me pede para aguardar um pouco e dirige-se a van que esta parada no jardim da casa a poucos metros de nos.

Abre o carro e continua procurando algo.

Antes que ele pudesse perceber, levanto-me e sigo em direcao ao meu carro.

Por um momento pensei em entrar e arrancar dali sem nem dar satisfação, porem achei que tal atitude pudesse ser mal interpretada caso toda aquela tensao fosse apenas coisas da minha cabeça.

Resolvi espera-lo, porem ja quase que na rua, proximo ao meu carro.

Mark mais uma vez nao encontra o que procura e aceita o meu convite de seguirmos caminho.

Deixei meu carro em frente a casa e seguimos a pe.

No caminho ele sugere paramos num bar.
Quando entramos, percebo que o bar eh frequentado por gays.

Ate ai, KW eh um destino bastante procurado por eles, e grande parte dos bares e restaurantes da ilha sao dirigidos ao publico gay.
O unico fato que me chama a atenção eh ele chamar o barman pelo nome.

Eu ja nao estava mais a vontade ao lado da companhia daquele cara totalmente estranho.
A cada segundo eu pensava em milhares de maneiras para me ver livre daquela situação, sem causar um desconforto ou mal estar para ambos.

Acabamos a cerveja e ele me convida para outro bar, também dirigido ao publico gay.

Mais uma vez Mark nao soh chama a bartender pelo nome mas como também conhece o dono do bar, também gay, que por um certo tempo frequenta a nossa mesa.

Mais uma vez a minha cabeça mais parecia um turbilhão de idéias para tentar me ver livre daquela situação.

Acabamos nossas bebidas, Mark se despede da bartender e ela o apresenta a conta.

Ele diz que ja pagou.

Ela aos berros chama o segurança.

Todos do bar olham em nossa direcao.

Eu dou um passo para tras.

O segurança me questiona se Mark pagou a conta, o que eu realmente nao havia reparado.

Enquanto a situação se desenrola mais uma vez eu penso em simplesmente sumir do local, e mais uma vez nao o fiz.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

(pag 14)

Nao prego que a festa em Key West seja uma das grandes maravilhas do mundo. Afinal como o nosso carnaval, nao tem propósito nenhum. Apenas diversão.

Mas se formos olhar no cerne da questão, eh de muito se admirar a coragem das pessoas e ate mesmo a brecha no Sistema que o sempre rigido e castrante Governo Americano oferece. KW esta tao afastada geograficamente do continente que chega a parecer que as leis americanas nao atingem a ilha.

Porem os folioes sabem que depois dessas duas semanas, todos voltam a ter a pacata e vigiada vida de uma típica familia americana.

Morei em KW durante pouco mais de duas semanas, nesse período conheci alguns americanos que como eu, estavam vivendo nos seus carros.

Nos EUA eh ate comum as pessoas transformarem suas vans em pequenos motorhomes e viajarem o pais todo.


Principalmente no inverno, muitas pessoas fogem do frio e da neve do norte do pais em busca de um clima mais ameno no sul.

Certo dia, fazíamos uma confraternização de despedida de um dos amigos, Mark, que no dia seguinte voltaria para seu estado natal, Ohio.

Estávamos todos no local onde parávamos nossos carros, um estacionamento gratuito praticamente na areia da praia. Paramos nossos carros/casas quase que formando um circulo. Eramos umas seis ou sete pessoas bebendo cerveja e falando besteiras.

Certo ponto da noite Mark, ja bastante embriagado, me convida para depois dali irmos para outro lugar continuar a festa.
A esse ponto eu imaginava que iríamos para uma dessas "casas de diversão de homens adultos".

Como nao tinha nada melhor pra fazer, aceitei o convite, porem soh nao entendi o fato dele nao ter estendido o convite a todos...

Mark, a essa altura trançando as pernas, obviamente deixou o carro no estacionamento e seguimos no meu.

No caminho ele me diz que precisa parar num local antes de seguirmos para o destino.

Paramos numa casa aparentemente vazia, porem nao abandonada nem depredada. Tinha apenas uma van parada no jardim.

A rua e o jardim da casa praticamente nao tinham luz. A escuridão tomava conta.

Ele me convida para descer do carro e aguardar.
Logo em seguida pede para eu segui-lo, ainda externamente da casa, ate uma espécie de jardim de inverno onde ha uma mesa de ferro com duas cadeiras. Senta-se em uma delas e pede para eu sentar-me na outra.

A essa altura o breu eh tao grande que mal consigo enxerga-lo a poucos centímetros de mim.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

(pag 13)

A Fantasy Party acontece nas semanas próximas a Festa do Halloween Americano.

No resto do pais a data ja eh muito comemorada, porem em Key West eles levam isso bem mais a serio.

A idéia da festa eh basicamente: diversão ao máximo e roupas ao mínimo.

Neste ano, a nova mania local principalmente entre as mulheres eh o Body Painting, ou no bom portugues, pintura no corpo.

Todas elas despem-se totalmente, tem seus corpos pintados e assim desfilam pela rua principal da cidade, chamada Duval Street, a essa altura ja fechada para circulação dos carros devido a quantidade de pessoas caminhando nuas de um lado para o outro.


Do outro lado, a sempre rígida policia americana segue observando tudo de longe mas por incrível que pareca nao repreende ninguém, nem pela falta de roupa, nem pelas cervejas na mao, afinal nos EUA eh proibido andar nas ruas consumindo bebida alcoólica...e principalmente pelado.

Enquanto isso as muitas milhares de pessoas respondem divertindo-se civilizadamente durante as duas semanas de festas.

Confesso nao ter visto durante todo o festival nenhum assalto, briga ou mesmo sequer uma "mao-boba" sobrando nas nádegas desnudas americanas.
Ótima licao de credito / responsabilidade.

Ao encontrar brasileiros, incrivelmente raros em Key West, o comentário eh sempre o mesmo: uma festa dessas, de rua, sem roupa, no Brasil…nao iria durar segundos. Uma pena!

A esse ponto voces devem estar se perguntando: “mas e o nosso carnaval?”

– Lhes explico a diferença básica entre as festas.

As mulheres nuas do carnaval no Brasil normalmente estao em cima de carros alegóricos de muitos metros de altura, longe do publico. Ainda assim sao exploradas com afinco pelas câmeras de televisão, alem de todos os anos a mídia levantar a sempre exaustiva, e ultrapassada, polêmica da nudez.

Em Key West nao.

A mulher, ou mesmo os homens, estao nus a poucos centímetros de voce caminhando nas ruas tranquilamente bebendo a sua cerveja.

E nao sao apenas modelos e atrizes que preparam seus belos corpos torneados meses antes do evento numa academia com personal trainer e dieta balanceada.

Sao pessoas como eu e voce. Pessoas reais. Que trabalham dia apos dia.
Pessoas que muitas vezes alimentam-se mal, dormem mal, levam as crianças na escola, mas que pelo menos durante duas semanas querem despir-se nao somente das roupas mas como também do puritanismo e do olhar preconceituoso da sociedade.

terça-feira, 24 de maio de 2011

(pag 12)

Confesso que a primeira noite dormindo no carro nao foi muito agradável.

A sensação de vulnerabilidade e insegurança eh grande, afinal pelo menos no Brasil carros sao os primeiros alvos de assaltantes.

Aos menores ruidos de pessoas conversando, carros passando, buzinas…eu acordava.
Noite interminável...

A idéia inicial seria de chegar em Miami e procurar um trabalho. Seja o que fosse.
Trabalho somente para custear a alimentação e a gasolina para a próxima etapa da viagem.

Porem aquele sentimento de inseguranca a que uma cidade grande te expõe nao me deixava literalmente dormir tranquilo.

Na manha seguinte decidi partir para Key West.

No total foram menos de doze horas morando em Miami. Talvez eu tenha sido o morador mais rápido da historia da cidade.

Para quem nao conhece, Key West eh a ultima de um pequeno complexo de ilhas que fica ao extremo sul dos EUA. Para ser mais exato, eh o ponto mais ao sul do pais.
Sao apenas noventa milhas de distancia de Cuba.

Apos dirigir, sem pressa, por dezenas de milhas por uma estrada maravilhosa que segue por sobre o mar, chamada nao a toa de Overseas, chego em Key West.


A cidade esta cheia, movimentada.

A primeira vista Key West talvez seja a cidade que mais se pareca em aspectos positivos com o Brasil.

Desde o clima, sempre calor, ate as pessoas andando a pe ou de bicicletas pelas ruas, ou mesmo sentadas nos muitos bares na Duval Street tomando cerveja…enfim, tudo o que eu ainda nao tinha visto desde a chegada aos EUA.

Nao poderia ter feito melhor escolha para esse inicio de viagem e adaptação ao novo modelo de vida no carro, afinal alem de extrema tranquilidade e segurança que a pequena e pacata ilha oferece, tem ainda uma infra-estrutura de banheiros e chuveiros públicos invejável.
Somando-se a isso o calor que sempre faz, nada mais convidativo para tomar meus banhos ao ar livre.

Logo na primeira noite noto uma agitação na cidade. Muita gente com pouca roupa.
Bom, pra ser mais exato, nenhuma roupa.

Sao dezenas de milhares de pessoas circulando totalmente nuas, apenas com os corpos pintados. O chamado body painting.

Ao procurar mais informacoes descubro que começando naquele dia, e se estendendo por outras duas semanas, acontece a festa mais famosa da cidade.
A Fantasy Party.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

(pag 11)


A viagem de carro entre Orlando e Miami gira em torno de quatro horas. Isso indo direto, sem paradas.

Me despedi de Orlando dando um "ate breve" as 14hs de um belo dia ensolarado e quente. Muito quente.

Mas para que ir direto para Miami se eu posso ir parando?
Para que pegar a rota mais curta se eu posso pegar a mais longa e ser feliz por mais tempo?

Segui pela costa leste da Florida ate Cocoa Beach, Daytona Beach e Fort Lauderdale.

Alias Fort Lauderdale confesso ser o lugar mais perfeito para morar quando atinge-se muitos milhões, de dolares eh claro, na conta bancaria.

Em Fort Lauderdale voce pode ter uma casa de muitos milhões, um barco de muitos milhões, um carro de muitos milhões que voce nao vai ser muito diferente do seu vizinho.


Mas como eu tinha pouco mais de quatro dígitos na minha conta bancaria, obviamente nao seria ali o melhor lugar para ficar.

Na chegada a Miami, ja de noite, procurei um lugar tranquilo, visto que seria a primeira noite a bordo da minha casa ambulante.

Mas onde eh tranquilo para se passar a noite dormindo dentro de um carro em Miami?
– Em nenhum lugar.

Como toda cidade grande que se preze, sempre ha muita gente circulando - de carro evidentemente, afinal em grande parte dos EUA as pessoas nao andam a pe pelas ruas - e a tranquilidade acaba sendo item de luxo.

Encontrei um ponto para estacionar próximo a Miami Beach, junto a uma praca, numa rua bem movimentada.
Foi o único lugar que nao precisaria pagar os inúmeros parquímetros para estacionar.

domingo, 22 de maio de 2011

(pag 10)

Orlando eh uma cidade maravilhosa. Rica, civilizada, bem distribuída, limpa alem de inúmeros outros adjetivos.


Alem de tais fatos, contribuiu também para eu estender um pouco mais a minha estadia em Orlando, o circulo de amizades que se formou.
Todos brasileiros, o que incrivelmente eh muito difícil de se ver fora do Brasil.

Muita das amizades que se tem entre brasileiros nos EUA tiveram origem no Brasil. Afinal brasileiro fora do pais por algum motivo nega a origem.
Junta-se a pessoas de qualquer nacionalidade, menos brasileiros.

Vi comunidades unidas de praticamente todas as nacionalidades. Desde países desenvolvidos ate países menos desenvolvidos.

Pude ver shoppings inteiros de povos de uma mesma origem, todos se ajudando de uma forma ou de outra, menos do Brasil.

Mesmo depois de rodar grande parte dos EUA, esse eh um fato que ainda me intriga.

Penso que caso esse comportamento mudasse, com a uniao de todos brasileiros que vivem no exterior, creio que a forca e dimensão do poderio sócio-econômico fora do Brasil seria pedra fundamental para melhorar nao soh a situação individual de cada um, mas melhorar também a imagem de pais de terceiro mundo que ainda temos perante aos chamados países desenvolvidos.

Políticas sócio-econômicas a parte, hora de partir!

Primeiro destino: Miami.

sábado, 21 de maio de 2011

(pag 9)

Numa dessas noites, Renato, um de meus amigos, me apresentou uma garota que ele havia acabado de conhecer próximo ao bar.

Sarah, americana, nem tao exuberante e rica na producao mas extremamente simpática, afinal aguentar um cara que ela mal acabara de conhecer e que tentava se comunicar com um inglês digno de Tarzan nao era tarefa fácil.

A noite se seguiu e ficamos juntos.

Na hora de irmos todos embora, Sarah surpreende-me dizendo que eu iria com ela.

Eu, logicamente aceito o convite.

Meus amigos com um certo receio de largar um cara que, havia acabado de chegar no pais, mal falava inglês, com uma desconhecida, ficaram olhando-se uns aos outros esperando alguma idéia relâmpago brilhante.
Eu, percebendo a situação tranquilizei-os dizendo que me virava bem sozinho.

Hora de saber o que de fato as americanas tem.

Confesso que em muitos aspectos elas nao deixam a dever em nada as brasileiras.

Certo dia, ainda em Orlando, nas vésperas de pegar estrada, Mauricio, um grande amigo de infância no Brasil, e quem me deu abrigo na chegada, me questiona se eu queria ajuda para tracar a rota da viagem.

A minha resposta evidentemente foi, nao.

Se durante onze anos da minha vida eu fiz viagens onde toda a rota estava pre-determinada, nao era agora que eu poderia ir pra onde quisesse que eu faria tal plano.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

(pag 8)


Comprei a mini-van e saquei as duas fileiras de bancos traseiros.
Com isso abriu-se um vasto campo para instalar um confortavel colchão de ar e ainda sobrava espaco para um pequeno gaveteiro para acomodar as roupas.

Pronto, a minha casa estava pronta.


Inicialmente o período que eu tinha em mente permanecer em Orlando seria de quinze dias. Que na verdade tornaram-se sessenta.
Primeiro pela dificuldade em conseguir encontrar o carro ideal para a empreitada e segundo pelas festas e a companhia de grandes velhos e novos amigos.

Um mes antes d’eu chegar a Orlando, um novo amigo havia perdido a esposa vitima de câncer. Aquela altura, tudo o que ele menos queria era ficar em casa.
E eu, com um vasto novo mundo a explorar, queria mais era ver a rua mesmo.
Bora pra farra!

As primeiras impressões foram as melhores.

As americanas, contrariamente ao que eu sempre ouvia falar, eram bastante acessíveis.

E nao eram aquelas baixinhas, gordinhas e com bochechas rosadas. Eram mulheres lindas, extremamente produzidas e com mini-saias ou vestidos tao curtos e colados ao corpo que muitas vezes deixavam escapar uma coisa ou outra aos mais atentos, como eu eh claro.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

(pag 7)

Capt. II
Primeiro destino, Estados Unidos da America

Nunca fui muito de viajar como também nunca fui muito de fazer planos, e eh claro que com essa viagem nao poderia ser diferente.

Embarquei no Brasil com destino aos EUA com meus gloriosos quinze mil reais, e que logo se tornaram menos da metade devido ao cambio da moeda americana. Ótimo! Soh para aumentar o pânico.

A idéia inicial era comprar um carro ou uma moto e rodar os EUA de leste ate o oeste e do sul ate o norte, exatamente nesta ordem, visto que eu desembarcava em Orlando, Florida, costa leste.

Seria como fazer um triângulo no mapa. Começando pela Florida e seguindo pelos estados do sul dos Estados Unidos ate a Califórnia na costa oeste. Depois subindo para o norte ate Chicago, passando por Nova Iorque e por fim descendo novamente ate a Florida pela costa leste.


Mas ok, e voce conhece um pouco das cidades nesse trajeto?
As estradas que tem que pegar?
O que vale a pena conhecer? – Porque eu nao tenho a mínima ideia!

Apos muito pesquisar precos e refletir a respeito do meio de transporte, decidi comprar um carro. Mais especificamente uma Caravan da Chrysler.


Carro bastante popular entre as familias americanas que gostam de espaco e conforto, a Caravan eh um carro de oito lugares, uma mini-van.

Ótimo para mim, que agora com mais uma mudança nos planos de ultima hora, decidi morar no carro.

Exatamente isso.


quarta-feira, 18 de maio de 2011

(pag 6)

A primeira idéia foi a Austrália, afinal nada como começar pelo outro lado do mundo.

Como em todo projeto que fazemos, o tempo passa, arquivamos um tempo, mudamos outro tanto, ate que um dia ele sai do papel totalmente diferente da idéia inicial.
Mas certas vezes isso eh bom, pois geralmente as mudanças sao para melhor, afinal com o tempo tornamos nossa percepção e senso-critico mais afinados com a realidade.

E foi o que aconteceu.

Agora o sonho era um tour ao redor do mundo.

O roteiro estava traçado.
Seis meses nos Estados Unidos, um ano na África do Sul, tres anos percorrendo a Europa para enfim chegar ao destino final, Austrália.

A essa altura vocês devem estar se perguntando: “ele deve ser muito rico para fazer todo esse roteiro”, “ah, ele deve falar inglês fluentemente, afinal foi comissário de voo”.

A resposta eh a mesma para as duas perguntas: NAO!

Eu tinha pouco mais de quinze mil reais no bolso e sustentava um maravilhoso inglês de Tarzan.

Mas quando se tem um sonho e determinação a realiza-lo, todas as barreiras tornam-se facilmente transponiveis.
Do tipo: "eu dou um jeito".

Mesmo que no fundo voce nao tenha idéia de que jeito va dar!

terça-feira, 17 de maio de 2011

(pag 5)

Era um período de fertilidade, afinal era o auge dos 20 anos, e a fartura de opcoes de escolha que pipocavam a minha frente parecia infindavel.

Como todo mundo que nunca comeu doce, quando come se enfarta de comer, eh claro que eu nao fui diferente.

Fiz escolhas, certas para quem tem vinte e poucos anos e pensa somente nas próximas vinte e quatro horas, porem erradas quando se olha mais adiante.
Mas afinal, quem nunca cometeu grandes erros nos seus vinte e poucos, que atire a primeira pedra.

Paguei um preco alto. Perdi o grande amor da minha juventude.

Eh claro que nunca saberemos se nosso grande amor da juventude seria eterno, mas acho que esse gostinho da duvida eh sempre bom mantermos para mais adiante dar valor ao que temos.

Foram ao todo onze anos de aviação. Conhecendo e explorando cada pedaço desse pais e experimentando os mais diversos sabores culturais e carnais.

Certo dia, quando mudava de empresa, afinal nesse período foram seis no total, me vi cansado daquela rotina de viajar para onde me mandavam, queria agora explorar o mundo com as minhas próprias pernas. Olhar com os meus próprios olhos.

E agora as fronteiras nao eram mais nacionais.
O sonho tinha tomado proporção mundial.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

(pag 4)

Essa deliciosa rotina seguiu-se por mais alguns anos, ate que com 21 eu decidi fazer um curso de comissário de voo.
Nao por frustração de nunca ter ido viajar com meus pais, pelo menos eu acho que nao, mas por ter me apaixonado por uma garota que ia fazer o curso.

Com toda a intensidade do primeiro amor, mergulhei de cabeça no curso.

Do final do curso ate começar a trabalhar foi questão de pouco tempo. Quando me vi ja estava dentro de um imenso aviao que transportava mais de duzentas pessoas e tendo que zelar pela segurança delas.

Mas essa nao era a questão. A questão era que eu nao estava indo para São Sebastião dessa vez!!!

Os destinos eram os mais variados e maravilhosos: Fortaleza, Maceió, Salvador, Porto Alegre, Florianópolis, enfim, todas das mais belas cidades do Brasil. E algumas fora do pais.

E o melhor, ainda estava recebendo por isso. A vida tornou-se um conto de fadas.

domingo, 15 de maio de 2011

(pag 3)

Sempre nesse período eu ouvia a mesma frase da minha mae: calma, voce e muito novo. Vai ter muitas oportunidades na vida de conhecer esses e muitos outros lugares.

Como bom adolescente eu achava tudo aquilo uma grande besteira, uma frase típica de consolo.

Anos depois vi que realmente ela estava certa. Maes muitas vezes (quase sempre) estao certas, o problema eh que quando somos adolescentes a gente nunca acha isso.

Porem, como eu ja tinha 18 anos e ja era muito senhor do meu nariz, afinal eu tinha meu próprio dinheiro, proveniente da minha mesada, ja podia viajar por conta própria.
Sendo assim, um "adolescente independente", cheio de vontade de conhecer o mundo, que pode ir para onde quiser, vai pra onde? – São Sebastião, litoral norte de São Paulo, e claro!

Mas agora era diferente, agora eu ia pra São Sebastião nao porque eu era obrigado. Eu ia porque eu queria ir! E isso faz muita diferença quando se tem dezoito anos. Afinal quem tem dezoito, uma mesada de um por cento de salário mínimo eh muito independente.

sábado, 14 de maio de 2011

(pag 2)

Nesse período minha mae ate então solteira casou-se. E meu padrasto adorava viajar.

Todas as ferias de final de ano era um novo destino. Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, enfim…sempre uma novidade.

E claro que isso foi despertando a minha vontade de também descobrir esse novo mundo, curtir essas novas aventuras.

Mas como todo casal com filhos grandes que se prezam, viajam sozinhos.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Capt. I

- O Garoto -

Nunca fui muito de viajar.
Quando criança, o máximo que fazia era nas ferias de final de ano descer para São Sebastião, litoral norte de São Paulo.
Era coisa de pouco mais de 200km, mas que para mim era como a descoberta de um novo mundo.
Durante muitos anos, mais precisamente 18, essa foi a minha rotina.


(pag 1)