sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

(pag 71)

Obviamente esse preconceito eh devido aos anos de repressão e submissão dos negros perante os brancos.

Hoje, com o pais na mão de governantes negros, as leis favorecem muito mais aos negros do que aos brancos. 

Fato esse que se por um lado ajuda a diminuir a distancia social entre as classes, por outro acirra ainda mais a guerra racial. 

Afinal nas Leis sul-africanas um emprego, por ordem judicial, deve ser dado primeiramente aos negros, em seguida aos miscigenados e por ultimo aos brancos. E nenhum pai de família, seja ele branco ou negro, quer perder uma vaga de trabalho não por competência, mas sim por uma lei que favorece uma cor de pele.

Mas como eh mês de Copa do Mundo, todos deixam de lado as mazelas raciais e juntos torcem a favor dos Bafana Bafana, como eh conhecida a seleção sul-africana. 

Ate mesmo os brancos, não acostumados com o futebol, sentam-se a frente da TV para acompanhar a seleção africana comandada pelo brasileiro Carlos Alberto Parreira.

O segundo jogo da Copa, Uruguay e Franca, acontece em Cape Town.

Eu trabalhava no restaurante naquela noite. 

O estadio ficava cerca de 20 minutos a pé de distancia de casa. 




A nossa apreensão era grande para o pós-jogo, afinal grande parte do publico iria sair do estadio procurando algo para comer. E nada melhor que uma bela pizza num restaurante italiano. 

Cerca de meia hora apos o termino da partida, o restaurante lota. 
Nunca tinha visto tanta gente naquele salão. 

Todas as mesas estavam lotadas e uma pequena fila esperando por mesas se formava la fora.

Já passa da meia noite e as pessoas não paravam de chegar.

Eis que eu vejo do lado de fora, Junior. Aquele Junior, jogador de futebol, lateral do Flamengo e da seleção brasileira, também conhecido como Capacete.

Chego ate ele já falando em português. 

Ele fica animadíssimo e me pergunta se eh possível conseguir uma mesa para ele, Cléber Machado (narrador) e Renato Marsiglia (comentarista de arbitragem). 

Obviamente eu digo que sim. 

Chamo Elizabeth de canto e explico a situação. 

O restaurante estava completamente lotado.

Conversando com clientes conseguimos mudar algumas pessoas para dar lugar aos nossos convidados mais ilustres da noite.

Ao perceber nossos esforços, eles não poupam elogios. 

Os três são uma simpatia.

Sem ao menos eu pedir, Junior saca de sua bolsa uma foto, autografa e me da de presente. 

Para Elizabeth ele escreve numa bandeira do Brasil uma dedicatória e conversa o tempo todo com ela em Italiano (aprendido nos anos jogando na Itália).

A velha senhora fica encantada com a simpatia do ídolo brasileiro.

Foi a noite mais cheia e também a unica, durante a Copa do Mundo.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

(pag 70)

Eu respondi que por mim não haveria o menor problema, afinal apesar de termos tido um affair no passado, não significaria que isso mudasse alguma coisa na nossa convivência. 

Porem ao mesmo tempo, todos achavam que Ricardo (e mais uma vez ele), estava de olho na baixinha da bela bunda, e isso sim viria a ser um empecilho, afinal ninguém ficaria a vontade com uma garota morando na casa onde ja tinha saído com dois dos moradores...ainda mais depois do trauma passado ha alguns meses atras.

Depois de uma breve votação, todos decidiram que apesar dos possíveis problemas que pudessem vir a acontecer, Melissa era uma pessoa tao especial que deveríamos ao menos tentar.

Finalmente ela veio morar conosco.

Passados alguns (poucos) dias, eu não resisti e cai de amores por ela. 
Passamos a ficar juntos. Primeiro escondido de todos, mas logo assumimos nossa relação.

Esse era um momento de muitas mudanças em casa.

Léo estava de saída voltando para o Brasil, Melissa chegando para morar conosco, tudo muito confuso principalmente para um grupo de pessoas que não paravam mais de beber nas festas de despedidas (e/ou de boas-vindas) dos que voltavam para os seus países de origem.

Para o lugar de Léo, viria Douglas, carioca que havíamos conhecido pela internet.
Como sempre mais uma loteria pela frente.

Na mesma época, Luciana, outra amiga, também estava na mesma situação que Melissa. 
Contrato de aluguel vencendo e sem teto para morar. Também passou a morar conosco.

Nessa época eramos em oito pessoas em casa, onde tínhamos planejado no máximo seis.



Cap. XV
A Copa do Mundo


O mês de junho chega e com ele a festa mais esperada por todos nos. 

A Copa do Mundo de Futebol da FIFA. 
O pais estava respirando a Copa. 



Por mais que a população branca da Africa do Sul não simpatizasse muito com o futebol, e sim com o Rugby, aquela altura o nacionalismo falava mais alto. 

Eram brancos e negros, esses últimos sim fanáticos por futebol, unidos, mesmo com suas ainda marcantes diferenças sociais.

Mesmo o apartheid tendo terminado legalmente ha quase 20 anos atras, na pratica e no dia-a-dia infelizmente ele ainda eh visto nas ruas da Africa do Sul.

Hoje um racismo velado. Proibido por lei. Mas ainda sim vivo na cabeça de algumas das pessoas.

E esse racismo também vive mesmo na cabeça dos negros, esses tao racistas quanto os brancos. 

domingo, 19 de fevereiro de 2012

(pag 69)

Sem saber muito o que responder, acabo aceitando.

Fomos para a sua casa e passamos a noite juntos.

Não posso dizer que não foi bom, muito pelo contrario, foram ótimos momentos de entrega e companheirismo. 

No fundo, bem la no fundo, eu tinha a certeza de que estava fazendo a coisa errada. Que não era aquele o melhor caminho a seguirmos.

Mas um dos motivos que me tendenciou a fraquejar e cair em tentação foi o de saber que dias depois Christine embarcaria para os EUA onde ficaria durante os próximos três meses.

Nessa viagem alem de outras coisas, ela passaria uma grande parte do tempo na casa de um ex (ou atual) namorado. Isso me levava a crer que possivelmente ela reataria com ele, e quando Chris voltasse seriamos novamente (e tao somente) grandes amigos, e isso era o que eu mais queria.



Nesse meio período em que Chris estava viajando descubro que estou apaixonado.
Apaixonado pela sua amiga, Alessandra.

Dias e mais dias se passavam e eu não conseguia tirar aquele lindo sorriso do meu pensamento e o belo sotaque dos meus ouvidos.

Pensei em convida-la para sair, para jantar, para fazer qualquer coisa. Só para te-la por perto. 
Porem, ao mesmo tempo não achava isso justo com Christine.

Tinha que antes de mais nada conversar com ela. Ser honesto.

Me distanciei e esperei pelo fim dos três meses de viagem.

Enquanto isso conheci Melissa. 

Brasileira, do tipo bem brasileira. 
Baixinha e com uma bunda maravilhosa.

Acabamos nos aproximando e consequentemente nos envolvendo. 

Certa noite, todos da Casa fomos para o Dubliner, e como ela era amiga de Camila, foi junto conosco. 

No meio da noite, quando nos ja estávamos mais bêbados e consequentemente sem muita noção de certo e errado, nos beijamos. Uma unica vez.

Mas a cada dia que passava, Melissa se mostrava não apenas uma bunda, ela era também uma pessoa extraordinária. 

Uma mulher do tipo que todo homem deseja. Companheira, carinhosa, meiga, inteligente...

Era do tipo que te acompanha desde bebendo uma cerveja e assistindo jogo de futebol, ate nos papos mais cabeça e chatos. Tudo sem reclamar. Sempre pertinho.

Certo dia Camila me chama e diz que o contrato da casa onde Melissa estava morando esta prestes a vencer, e ela não tinha onde morar. 

A ideia de Camila, sua melhor amiga, era de Melissa vir morar conosco.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

(pag 68)

O Buena Vista eh uma balada de musica latina. Salsa, para ser mais exato.

Fui com amigos e chegando la encontro Christine dançando no meio da multidão que se espremia na pista. 

E realmente era muita gente. Todos se espremiam e se esbarravam. Mesmo assim Christine ao me ver, me convida para dançar.

Eu, obviamente recuso, afinal Salsa nunca foi o meu forte. 
Alias dança nunca foi o meu forte.

Depois de uma breve insistência eu acabo cedendo ao convite para não ficar uma situação chata.

Dançamos por alguns minutos ate Christine me chamar a atenção de que o que eu estava dançando não era Salsa, e sim forro.

Bom, isso era o melhor que eu sabia fazer. 

Pedi desculpas mas disse que não poderia mudar o passo para não botar em risco seus belos pés.

Se o ritmo dançado era o forro, quem dançou ja sabe como eh. 

Os corpos foram cada vez chegando mais próximos, os suores dos dois corpos ja eram um só, a respiração ja estava ofegante...e dali para o beijo foi questão de segundos.

Tudo o que eu havia pregado de separar a vida pessoal do trabalho tinha caído por terra em questão de algumas coxas se roussando.




Apesar dos seus quarenta e poucos anos, Chris era uma mulher bonita e sensual. Seu corpo era talhado pela dança aliada a horas de academia. Porem mesmo depois que nos tornamos mais próximos a minha relação com ela foi muito mais de amizade, carinho, respeito e admiração, do que de fato uma relação de homem e mulher. 

Sempre tivemos uma ligação muito forte. 

Passávamos horas conversando e em muitos aspectos tínhamos muitas coisas em comum. Desde fatos por qual tínhamos passado ou ate mesmo na forma de enxergar a vida. 

Era muito estranho e ao mesmo tempo encantador. 
A nossa amizade foi crescendo e tomando força diariamente.

Enquanto isso eu tentava conter a ideia de relacionamento que vinha exclusivamente do lado dela, afinal não a via como "minha mulher", e sim como uma grande amiga e companheira. 

Nao a queria tao próxima como sendo minha namorada, porem não tao longe para que perdêssemos a nossa linda amizade.

Certo dia ela me convida para a festa do seu aniversario.

Chegando la, dentre outras pessoas, ela me apresenta sua amiga Alessandra.

Alessandra era espanhola, morava em Cape Town ha alguns anos e falava português, que alem de fluente, vinha acompanhado de um sotaque dos mais belos que eu ja ouvi. 

Ate mesmo as palavras ditas erradamente soavam bem aos ouvidos.

Um dos planos que eu tinha apos sair da Africa do Sul, seria ir para a Espanha ou Inglaterra. Alessandra, alem de espanhola, tinha morado por vários anos em Londres. Ou seja, alem de uma nova amizade, seria uma ótima pessoa para colher detalhes, informações e dicas sobre os dois países.

Quando me vi estava ha horas conversando com ela, que alem de ser uma das mulheres mais lindas que conheci, era de uma simpatia encantadora. Alex eh do tipo de pessoa que quando você começa a conversar, não da mais vontade de parar, de sair de perto.

Passei praticamente todo o aniversario de Christine conversando com a espanholinha.

Na hora de ir embora, Chris me surpreende e diz que eu devo ir com ela. 

Para a casa dela.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

(pag 67)

Cerca de três dias depois de ficarmos, Milena combinou uma viagem de carro para Namíbia juntamente com Mauricio, Ricardo, Julia e outra amiga. 

Eles passariam uma semana viajando por entre cidades, desertos e parques naturais.

Quando voltaram, todos eram puro entusiasmo.

Assim que Mauricio e Ricardo chegam em casa eu pergunto como tinha sido a viagem.

A primeira coisa que ele me responde eh: estou apaixonado pela Milena.

Miguel, que estava sentado junto a mesa comigo, quase cai da cadeira.

Eu, tentando manter o controle respiro fundo e pergunto calmamente: por que, vocês ficaram?

Ele responde: não, mas eu estou apaixonado por ela.

Logo em seguida eles saem todos para beber e comemorar a chegada. Ficamos somente eu e Miguel na Casa.

Viro para Miguel e digo: acho que eh melhor ninguém ficar sabendo que eu fiquei com a Milena, o que você acha?!

Miguel não acredita no que eu havia acabado de dizer e me enfrenta para que eu abrisse o jogo para Mauricio e lutasse por ela.

Depois de alguns minutos de reflexão concluo que eu não tenho esse direito. 

Havia ficado apenas duas ou três vezes com Milena, e apesar de ter sido bom, não tinha a mesma certeza dos meus sentimento por ela que Mauricio as tinha. Com isso era melhor me calar, perder uma garota bacana, do que contar tudo e estragar os sentimentos e planos de um grande amigo.

Optei pela amizade de um amigo em detrimento a uma mulher.

Daquele dia ate o dia do embarque de Milena de volta para o Brasil, eu ouvi Mauricio falar sobre seus sentimentos por ela, dei conselhos sinceros a ele e sempre me mantive distante dela.

Situação que não desejo a ninguém afinal por mais que eu tentasse me manter distante, o circulo de amizade era o mesmo, com isso quase que diariamente Milena estava em nossa Casa e eu me deparava com o casal entre beijos, carinhos e abraços.

Por mais que estava feliz por ver um amigo bem, estava destruído por dentro.

Mais uma vez o tempo teria que ser o meu melhor amigo.

Certo dia, no restaurante onde trabalhava, conheço por acaso uma cliente. 

Seu nome era Christine. Uma francesa com seus mais de quarenta anos que morava em Cape Town já ha algum tempo. 

Conversamos rapidamente sobre um CD de MPB que estava sobre a mesa e ela se mostrou apaixonada pelo Brasil, conhecia tudo!

Trocamos telefones.



Sempre separei muito a minha vida pessoal do trabalho. Com isso, apesar da vontade, preferi não ligar para Christine e evitarmos possíveis constrangimentos. 

Porem Cape Town não eh grande o suficiente para nunca mais se ver alguém que você conhece. Volta e meia nos encontrávamos em diferentes ocasiões.

Uma delas aconteceu num lugar chamado Buena Vista Social Club.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

(pag 66)

Nos primeiros dias apos o ocorrido o clima na Casa ficou um tanto quanto tenso.

Se ate ontem todos eramos unidos, sentávamos na sala e ficávamos por horas e horas conversando, hoje não mais. 

O que se via era no máximo duplas conversando, ate combinando alguma coisa junto, mas nunca todos ao mesmo tempo. 

Por um período o nosso lema: "se eu for, você vai também" perdeu o sentido.

Porem, com o tempo a ferida cicatrizou e a relação de amizade prevaleu. Dia apos dia tudo ia voltando ao lugar certo.

Do outro lado da historia ficou Bianca. 

Talvez apos ter se dado conta do que fez, caiu em profundo desespero. 

Mas o desespero não era por me perder, afinal estávamos juntos a poucos dias. O desespero foi por ter percebido o que tinha acabado de fazer. Afinal traição com melhores amigos envolvidos nunca deixa uma boa imagem para ninguém, principalmente para ela. 

Por mais fama de pegador que tenham os envolvidos, o que prevalece são sempre as mas impressões, as (errôneas) impressões machistas.

Durante dias Bianca me procurou tentando uma possível reconciliação.

Para mim, por mais que a tivesse perdoado, era impossível olhar para aquela garota e não sentir a dor da traição. Seria impossível ter alguma relação com uma mulher pela qual eu não teria a menor confiança.

Preferi me afastar para diminuírem as dores. Tanto minha quanto dela.

Da mesma forma que o destino as vezes nos prega peças, as vezes ele trabalha a nosso favor. Dias depois Bianca embarca de volta para o Brasil.

Enquanto isso eu seguia o meu caminho, cuidando cada vez mais de mim e do meu coração. 

Voltei a correr e a regular melhor a minha alimentação.
Tudo para curar a ferida.

Certo dia, Lucia, uma de nossas amigas, diz que sua irma Julia esta vindo do Brasil com uma amiga para passar uns dias de ferias.

Milena e Julia chegam a Cape Town realmente no ritmo de ferias, ou seja, querendo festas, passeios e bebedeira. 

Obviamente todos nos demos muito bem, afinal nosso ritmo na Africa era exatamente aquele...mesmo não estando de ferias.

Acabei me envolvendo com Milena. 
Ficamos algumas vezes sem que ninguém visse. Como adolescentes, ficávamos escondido de todos.



O único que soube foi Miguel, que depois de tudo o que havia acontecido dias atras tornou-se meu melhor amigo e confidente.

Pra falar a verdade ate hoje não sei porque eu e Milena fizemos isso escondido, afinal nenhum dos dois tinha motivos para esconder de ninguém. Eramos solteiros e desimpedidos.

Porem o tempo mostrou que estávamos certos em esconder.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

(pag 65)

Bianca insiste que precisávamos conversar. 

Eu respondo que não. Que tudo já estaria resolvido, que ela já tinha feito a sua escolha, e que cada escolha trás o onus de uma renuncia.

Ela insiste que teríamos que conversar pessoalmente.

Acabo aceitando afinal, apesar de tudo, não a via como uma inimiga.

Combinamos numa cafeteria proxima a minha casa.

Quando chego ela já esta com os olhos vermelhos de choro.

Assim que me sento ela dispara a falar e a me contar a sua versão do que havia acontecido. 

Nao sei porque mas no passado eu sempre fui mais macio, porem aquela hora eu percebi que havia mudado. Me sentia duro e insensível. 

Talvez porque no passado o errado na historia era sempre eu.

Mas não dessa vez. 
Dessa vez eu estava sentado pela primeira vez do outro lado da mesa. Do lado dos inocentes e não mais no banco dos réus. Nao precisava mais chorar e mendigar pelo perdão. Tinha apenas que perdoar ao invez de ter que pedir o perdão.

E me senti confortável com essa posição. 



Estava sentado diante de uma garota de vinte e poucos anos, chorando arrependida por um erro que cometeu bêbada em uma festa. 

Era como se eu tivesse me vendo alguns anos atras. Porem não poderia ser muito duro ou ate mesmo hipócrita não perdoando aquela imatura garota que estava cometendo os mesmos erros que eu cometi no passado. 

Perdoei sim. 
Porem como disse a ela, ela havia feito uma escolha, e quando a fez, abriu mão de mim. Perdoar não significa esquecer, e para mim seria impossível esquecer tudo o que havia acontecido e continuar a namorar com uma garota que tinha ficado com meu melhor amigo, com meu companheiro de quarto. Todos os personagens da historia estavam muito próximos, inseridos no contexto do dia-a-dia, não tinha como fingir que nada havia acontecido e seguir em frente.

Acabamos a conversa, me levantei da mesa e fui embora estranhamente leve. 

Com os sentimentos totalmente intactos, porem com o coração dilacerado.

Percebi que não havia me tornado duro e insensível como eu havia achado, só estava confortável numa posição de que o erro não tinha sido meu, com isso pela primeira vez não me sentia culpado. Não precisava chorar.

Tudo isso que aconteceu foi muito importante para mim. 

Com isso aprendi que respeitar nossos próprios sentimentos eh fundamental. Trai-los eh como trair a nos mesmos. Ficamos bem perante alguém, porem destruídos perante o espelho. E que o rotulo de traído ou mesmo corno eh um rotulo que a sociedade coloca na pessoa errada. Afinal não devia levar um rotulo a pessoa que foi enganada, e sim a enganadora. E essa, estranhamente não tem.

Depois de tudo o que aconteceu, uma situação que eu mesmo tentava evitar acabou tomando conta de Casa. Os partidos e partidários. 

Uns ficaram do meu lado e outros ficaram do lado de Ricardo. Apesar de não haver um lado certo ou errado.

Obviamente eu acabei me afastando um pouco de Ricardo, não por considera-lo um traidor, mas sim pela dor que tudo isso havia me causado. 

Junto comigo, mesmo a contra-gosto, vieram meus partidários, Miguel e Camila. 

Sentei com os dois e disse que tomar partido era tao errado quanto tudo o que estava acontecendo. 

Miguel concordou. 

Camila por ser mulher ou talvez um pouco mais nova, foi a mais radical.

Do outro lado estavam Leo e Mauricio defendendo Ricardo. 

Mas não defendiam de mim, afinal eu nunca o ataquei. A guerra era entre os partidos, não entre os partidários. 

Cada um tinha uma forma de ver o ocorrido e, tomar partido, foi apenas consequência.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

(pag 64)

Miguel, sentado a minha frente me pergunta se eu não vou atender. 
Respondo que não.

Digo que sabia o que estava acontecendo e que aquela não era a melhor hora para eu e ela conversarmos sobre o que supostamente estava rolando naquele exato momento. 

Ele tenta me convencer que eu estava errado, apesar d'eu notar que ele mesmo não tinha essa certeza.

Tomamos umas cervejas, conversamos por mais algumas horas e fomos dormir.

No dia seguinte acordo bem tarde e noto que Ricardo ja estava de volta, ali, dormindo na cama ao lado.

Ele também acorda ao mesmo tempo que eu. Talvez na verdade ele nem estivesse dormindo, somente me esperando acordar para contar tudo sobre a noite anterior.

Ainda na cama eu pergunto como foi a festa. 

Ele diz que foi maravilhosa mas que tem uma coisa pra me contar.

Eu me sento na cama.

Ele pergunta: Você e a Bianca já não estao mais juntos né?!

Sem entender muito a afirmação da pergunta, ele já emenda a resposta: Porque eu fiquei com ela ontem na festa!

Nessa hora me senti mal, muito mal.



Ok, "sabia" que ela tinha ficado com alguém, mas JAMAIS poderia pensar que esse alguém seria o cara que dividia o quarto comigo. O meu primeiro amigo aqui na Africa do Sul. A pessoa que eu era mais próximo ate então. 

Foi difícil.

O vazio que toma conta do estomago, somado a fraqueza nas pernas e a angustia que dói no peito... só quem já passou por uma situação como essa pode entender.

Ao mesmo tempo em que essa avalanche de sentimentos tomavam conta do meu corpo eu ainda tinha que numa fração de segundo pensar no que responder, afinal as opções eram muitas, pois: poderia dizer que eu e ela não estávamos mais juntos (para não me passar por traído), para ele não se sentir mal, para não estragar uma amizade; ou simplesmente como grande parte dos homens fazem, poderia acusa-la de vadia ou piranha...mas não, esse não seria eu. 

Optei por falar a verdade. Ser sincero comigo e com meus sentimentos. Por mais que isso me expusesse a julgamentos, rótulos e penas. 

Disse a ele que sim, que estávamos juntos. Que inclusive tínhamos trocado varias mensagens ate minutos antes deles se beijarem. Mostrei a ele todas as mensagens e salientei os horários em que Bianca as tinha me enviado.

Preferi ser verdadeiro comigo mesmo do que me passar por forte e durão. Nao quis tentar sair por cima da situação assim como durante toda a minha vida erradamente fiz.

Anos atras numa situação dessas, eu ridiculizaria a pergunta, menosprezaria a garota e manteria minha imagem. Mas não agora.

Hoje prefiro escolher a verdade, ser verdadeiro comigo mesmo e com meus sentimentos. E apesar das dores que essa escolha por ventura me causem, por outro lado minha consciência dorme o sono dos anjos.

Ricardo ficou sem palavras ao ler as mensagens. 
Creio que ele tenha feito a pergunta afirmando no intuito de impor uma verdade, verdade essa a que ele mesmo temia.

Horas depois Bianca novamente me liga. 

Dessa vez resolvo atender.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

(pag 63)

Respeitei o pedido e me mantive distante esperando que ela decidisse a respeito do nosso futuro.

Cerca de uma semana se passou.

Certo dia nos encontramos numa balada e voltamos a ficar juntos e decidimos continuar ficando para ver no que ia dar.

Nossa sintonia era muito boa. 
Eu não a cobrava de nada e ela aos poucos ia se entregando mais e mais a mim. 

Dois dias depois da decisão de ficarmos juntos novamente haveria uma festa numa cidade próxima, Stellenbosch.

Stellenbosch eh uma das principais cidades produtoras de vinho na Africa do Sul, alem disso abriga umas das melhores e maiores faculdades do pais. Com isso no verão são muitas as festas que acontecem na cidade.

E essa festa em especifico, seria mais especial. Primeiro pelo fato de ser dentro de uma das maiores e mais belas vinícolas da cidade, a Spier. Segundo porque iria tocar a banda mais famosa da Africa do Sul, o Goldfish.

Goldfish eh uma banda que mistura musica eletrônica com jazz. Tudo isso com uma pegada bem dançante e contagiante. Vale a pena conhecer.




Voltando a falar do "grande evento"...a sorte nunca foi uma das minhas grandes companheiras, com isso claro que eu não estava de folga no dia da festa.

Enquanto Cape Town inteira estava falando da festa, enquanto todos estavam contando os minutos e segundos para a chegada, eu seguia trabalhando.

Em casa, Ricardo e Mauricio eram os únicos que iriam.

Decidiram alugar um carro e passar uma noite num albergue em Stellenbosch. 

Logo em seguida, Bianca e mais 3 amigas também decidiram juntar-se a eles no passeio.

Nos dois dias de intervalo entre a festa e a nossa "volta", Bianca me chamava para ir para Stellembosch com ela. Obviamente eu não poderia ir, afinal já tinha me comprometido a trabalhar. E nos dois restaurantes inclusive.

Sábado a tarde, enquanto eu trabalhava, seguiram todos para a festa.

Nas primeiras horas de festa Bianca e eu trocamos varias mensagens por telefone. Muitas com ela dizendo o quanto queria que eu estivesse la. 

Horas depois as mensagens cessaram. 

Meu sexto sentido dizia que algo tinha saído errado.

Quando chego em casa sento com Miguel para conversar. 
Miguel e eu estávamos nos tornando melhores amigos.

Decido mostrar a ele as mensagens, uma por uma...ate a ultima. 
No final digo que algo estava errado.

Minutos depois mais uma mensagem de Bianca. 

Desta vez dizendo dizendo a classica: "Precisamos conversar".

No minuto seguinte o telefone toca. 

Era Bianca novamente.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

(pag 62)

Enquanto Léo vai ao banheiro limpar-se do banho de cerveja, Camila nos conta a sua versão do que aconteceu.

Ela disse que eles estavam dançando quando perceberam um celular no chão. 

Camila pegou o celular e perguntou se era de Léo. 

Ele disse que sim e colocou no bolso. 

Segundos depois uma garota se aproxima e pergunta se ele havia achado um celular no chão. 
Ele responde que não. 

Ela então diz que viu Camila pegando o celular no chão e ele colocando no bolso. 

Léo, completamente bêbado, diz mais uma vez que não, que não sabia do que ela estava falando.

A garota pede emprestado o celular da amiga e liga para o numero do celular perdido. 

O celular toca e previsivelmente o som vem do bolso de Léo. 

Ele saca o celular do bolso e pergunta com a maior cara-de-pau a todos quem havia o colocou ali dentro.

Assustada com a atitude de "Raquel", ops Léo, a garota pega o celular da sua mão e joga um copo de cerveja em sua cara.




Camila, que estava sentada assistindo tudo de longe só entendeu a historia segundos depois.

Enquanto Camila acabava de me contar a historia, Léo sai do banheiro e passa por nos dizendo que iria bater na garota.

Todos correndo atras do Léo...

Quando chegamos no segundo andar, vejo que a garota que tinha feito isso era Silvia, justamente a garçonete brasileira que estava me ajudando no restaurante onde eu trabalhava.

Mais uma peça pregada pelo "Mundo Pequeno".

Entre três milhões de pessoas que moram em Cape Town, por que justamente a brasileira que eu estava trabalhando tinha que estar envolvida nessa historia?

Enfim, certas perguntas simplesmente não tem respostas.

Enquanto eu me fazia essas perguntas, uns seguravam o enfurecido Léo.

Chamei Silvia de lado e tentei amenizar tudo. Disse que Léo sofria de dupla personalidade quando bebia e que Raquel, a pessoa que tomava conta de seu corpo, era justamente daquele jeito.

Claro que a historia não colou, afinal quem iria acreditar nisso?
O pior era que era verdade mesmo.

Acho que já estava na hora de voltarmos todos para Casa...


Cap. XIV
As Primeiras Frustrações

Numa das tantas indas ao Dubliner, conheci uma garota. Bianca.

Natural de Fortaleza, Bianca ainda guardava alem do sotaque carregado a pureza de uma garotinha do interior.

A cada dia nos aproximávamos mais e mais.

Num dia era um jogo de truco, no outro um passeio na praia, no outro simplesmente uma conversa em casa, tudo era desculpa para nos vermos.

Ate que um dia ficamos, e no outro, e no outro, e no outro...

Por mim nos continuaríamos ficando, afinal me sentia atraído por ela.
Não sei se por aquela ingenuidade ou pelo jeito moleca dela ser. Mas me sentia bem quando estava junto a ela.

Mas ela não.
Certo dia ela me pediu um tempo para pensar se era isso que ela realmente queria. 

Achei compreensível afinal grande parte das pessoas que estavam nessa época em Cape Town eram estudantes. Muitos deles inclusive estavam saindo de casa pela primeira vez e experimentando os diversos sabores carnais. 

Então: pra que namorar??

Pergunta mais que obvia na cabeça de uma garota com seus vinte e poucos anos.
Eu, com mais de trinta, já tinha certeza do que queria para mim. 

Só me restava esperar por ela.