sexta-feira, 17 de junho de 2011

(pag 33)

A estrada parece ser interminável. Ja são mais de quatro horas dirigindo por centenas de milhas num cenário branco e gelado.

Ao se aproximar do Parque do Grand Canyon leio uma placa com os valores para entrada.

Mas como assim, paga-se para ver o Grand Canyon?

– Sim, vinte e cinco dólares por carro.

Ótimo, aquela altura eu, quase sem dinheiro para abastecer o carro teria que pagar para matar uma curiosidade.

Chego a área de pedágio.

O carro da frente passa e chega a minha vez.

Quase com lagrimas nos olhos noto que a cabine esta fechada.

Espero alguns segundos e vejo outra cabine mais a frente. Talvez o cobrador esteja nessa.

Sigo e paro na próxima. Também fechada.

Noto que todos os carros estao como eu, indecisos. Decido passar também. Perfeito!

Nao sei o motivo mas naquele dia, ou naquela hora, não estavam cobrando.

Talvez quem saiba fosse um presente de Natal, visto que era dia vinte e quatro de dezembro. Sendo assim, obrigado pelo presente Papai Noel!

Entro no parque. O cenário eh branco e hostil. Nada nem ninguém nas ruas para sequer pedir alguma informação de onde eu poderia ir para realmente ver a grande fenda.

O jeito eh seguir o instinto. E esse não me deixa na mão.

Chego ao local, estaciono o carro e o queixo cai no chão coberto pela neve.

Realmente eh um cenário deslumbrante. Somente estando la para descrever tamanha beleza.

E uma mistura de forca da natureza com tranquilidade. Completo silencio. O branco da neve se encarrega do tom bucólico.

A tarde cai num maravilhoso por-do-sol. A luz laranja do sol e das rochas do Grand Canyon contrastam com o branco da neve. Magnifico.


Sem dar-me conta, passo horas caminhando na neve na beira do penhasco.

Diversos dias durante a minha viagem pelos EUA me fizeram refletir muito a respeito da vida. Afinal eram dias e mais dias sozinho, sem contato com ninguém, somente pensando.

Pensando não somente na minha vida, mas na vida de uma forma geral, de como o mundo esta caminhando ultimamente. Pensando onde tudo isso vai parar.

Sempre fui muito critico em relação ao comportamento do ser humano, nunca entendi muito bem maldades, injustiças e coisas do gênero.

Também nunca me dei muito bem com a ideia de um Deus. Alguém com tanto poder e ao mesmo tempo tao omisso?

Sem estender a critica para o resto da humanidade, resumo-a apenas a mim:
Sempre, quando não o fiz, ao menos procurei fazer tudo corretamente. Nunca desejei mal ou cultivei inimigos. Mas tudo isso não porque um Deus pudesse me castigar ou coisa do gênero, mas simplesmente por mim. Para eu mesmo me sentir bem.

Sempre senti muito mais orgulho do que fiz pelos outros do que fiz por mim mesmo.

Sempre trabalhei e batalhei sozinho pelos meus sonhos e ideais. Nunca usei ninguém para alcança-los.

Sendo assim, por que eu sofria tantos castigos "divinos"?

Ok, estava realizando um sonho viajando para fora do Brasil, mas era um sonho a duras penas. Um sonho que deixavam cicatrizes e marcas de batalha. Um leão dia-apos-dia.

E cade esse Deus que nunca estava ao meu lado? Era impossível acreditar nele.

Sentei-me por horas e mais horas a beira do Grand Canyon pensando a respeito de tudo isso e tentando encontrar uma resposta...sem sucesso.


Por minutos, pra não dizer por horas, pensei em acabar com a minha viagem pela Terra ali mesmo, afinal alem de tudo, era um cenário maravilhoso.

Precisava acertar as contas com esses tal Deus. Cobrar dele a minha boa passagem na Terra.
Besteira! Esse Deus nao existe.
A verdade mesmo eh que eu estava cansado.

Mas confesso, não tive coragem.

Mas a coragem não foi de fazer, mas sim por não achar justo com as pessoas que me ajudaram e me incentivavam a prosseguir a cada dia. Nao queria decepciona-las. Odeio causar decepção nas pessoas.

Alem do que era véspera de Natal e eu não queria estragar o Natal e reveillon de ninguém, especialmente da minha família.

E esse foi o motivo que eu encontrei para mais uma vez tentar seguir o meu caminho.

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