quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

(pag 65)

Bianca insiste que precisávamos conversar. 

Eu respondo que não. Que tudo já estaria resolvido, que ela já tinha feito a sua escolha, e que cada escolha trás o onus de uma renuncia.

Ela insiste que teríamos que conversar pessoalmente.

Acabo aceitando afinal, apesar de tudo, não a via como uma inimiga.

Combinamos numa cafeteria proxima a minha casa.

Quando chego ela já esta com os olhos vermelhos de choro.

Assim que me sento ela dispara a falar e a me contar a sua versão do que havia acontecido. 

Nao sei porque mas no passado eu sempre fui mais macio, porem aquela hora eu percebi que havia mudado. Me sentia duro e insensível. 

Talvez porque no passado o errado na historia era sempre eu.

Mas não dessa vez. 
Dessa vez eu estava sentado pela primeira vez do outro lado da mesa. Do lado dos inocentes e não mais no banco dos réus. Nao precisava mais chorar e mendigar pelo perdão. Tinha apenas que perdoar ao invez de ter que pedir o perdão.

E me senti confortável com essa posição. 



Estava sentado diante de uma garota de vinte e poucos anos, chorando arrependida por um erro que cometeu bêbada em uma festa. 

Era como se eu tivesse me vendo alguns anos atras. Porem não poderia ser muito duro ou ate mesmo hipócrita não perdoando aquela imatura garota que estava cometendo os mesmos erros que eu cometi no passado. 

Perdoei sim. 
Porem como disse a ela, ela havia feito uma escolha, e quando a fez, abriu mão de mim. Perdoar não significa esquecer, e para mim seria impossível esquecer tudo o que havia acontecido e continuar a namorar com uma garota que tinha ficado com meu melhor amigo, com meu companheiro de quarto. Todos os personagens da historia estavam muito próximos, inseridos no contexto do dia-a-dia, não tinha como fingir que nada havia acontecido e seguir em frente.

Acabamos a conversa, me levantei da mesa e fui embora estranhamente leve. 

Com os sentimentos totalmente intactos, porem com o coração dilacerado.

Percebi que não havia me tornado duro e insensível como eu havia achado, só estava confortável numa posição de que o erro não tinha sido meu, com isso pela primeira vez não me sentia culpado. Não precisava chorar.

Tudo isso que aconteceu foi muito importante para mim. 

Com isso aprendi que respeitar nossos próprios sentimentos eh fundamental. Trai-los eh como trair a nos mesmos. Ficamos bem perante alguém, porem destruídos perante o espelho. E que o rotulo de traído ou mesmo corno eh um rotulo que a sociedade coloca na pessoa errada. Afinal não devia levar um rotulo a pessoa que foi enganada, e sim a enganadora. E essa, estranhamente não tem.

Depois de tudo o que aconteceu, uma situação que eu mesmo tentava evitar acabou tomando conta de Casa. Os partidos e partidários. 

Uns ficaram do meu lado e outros ficaram do lado de Ricardo. Apesar de não haver um lado certo ou errado.

Obviamente eu acabei me afastando um pouco de Ricardo, não por considera-lo um traidor, mas sim pela dor que tudo isso havia me causado. 

Junto comigo, mesmo a contra-gosto, vieram meus partidários, Miguel e Camila. 

Sentei com os dois e disse que tomar partido era tao errado quanto tudo o que estava acontecendo. 

Miguel concordou. 

Camila por ser mulher ou talvez um pouco mais nova, foi a mais radical.

Do outro lado estavam Leo e Mauricio defendendo Ricardo. 

Mas não defendiam de mim, afinal eu nunca o ataquei. A guerra era entre os partidos, não entre os partidários. 

Cada um tinha uma forma de ver o ocorrido e, tomar partido, foi apenas consequência.

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